“É difícil lutar contra o desejo, ele consegue tudo o que quer, ainda que ao custo da alma.” – Heráclito (c. 535-475 a.C.), filósofo pré-socrático
“A vida feliz é conforme à virtude... uma vida virtuosa exige esforço e não consiste em divertimento... o homem virtuoso destaca-se dos outros porque vê a verdade em todas as coisas, sendo ele o cânone e a medida delas.” – Aristóteles
A filosofia prática de Aristóteles compreende três partes, correspondendo às esferas de ação apresentadas ao homem: (a) política ou regra da vida social (ver A Política), (b) econômica ou regra da vida familiar (ver A Política), e (c) ética ou regra da vida individual.
Há uma hierarquia de bens, sendo uns bens intermediários e outros bens finais. O conhecimento deste bem final é crítico para a vida prática. Toda ação humana visa o bem – o bem final é a eudaimonia (felicidade). Ética a Nicômaco busca definir esta finalidade objeto de nossas ações.
O bem ideal platônico é descartado como sendo a felicidade por ser inatingível na concretude humana, porém os bens reais aristotélicos carecem de um parâmetro, e este só surgirá com o Cristianismo (o judaísmo já tinha esta regra com os Dez Mandamentos, mas é uma religião introvertida – não ecumênica). A falta desta legislação é uma anomia.
Uma vida de prazeres também não corresponde à felicidade, pois é uma existência animalesca. Os prazeres são admissíveis quando decorrem da virtude ou se harmonizam com ela (o prazer como resultado e não como fim). As honras também não devem ser a finalidade da vida, pois são efêmeras e, por vezes, quem as confere não tem valor. E uma subsistência destinada ao acúmulo de riqueza é desprovida de sentido, pois o dinheiro é um meio e não um fim.
A felicidade deve ser um bem final, não intermediário, completo e autossuficiente – a finalidade visada por todas as ações. Ética é a arte de saber o que fazer, e é apenas na ação humana que podemos alcançar a felicidade (ou não) – a virtude só tem valor como exercício (ato, seja como meio ou finalidade), e não como potência. A felicidade não depende da sorte, mas apenas do próprio homem.
A felicidade humana só seria possível quando o homem cumpre a sua função (Aristóteles busca algo concreto já que descartou a via metafísica na busca da definição de felicidade) – a felicidade da alma, a ação da alma segundo a razão (areté humana). A felicidade é viver conforme o melhor modo de vida, uma vida dirigida pela razão (Aristóteles não diz qual é (que contempla o homem contemplativo?) – este impasse coincide com o fim da filosofia grega) – um bem ligado à alma, superior às duas outras classes de bens: os exteriores e os do corpo (bens complementários à felicidade, mas não essenciais). Nenhum efeito externo destrói a real felicidade da virtude interna.
A alma (psique) é composta de três partes:
(1) Alma Vegetativa: Cuida de tudo que é automático, respiração, circulação do sangue. Produz a nutrição, o crescimento, a reprodução e o declínio dos seres vivos. Os animais e as plantas também têm, representa a vida biológica. A alma vegetativa assimila o dessemelhante.
(2) Alma Sensitiva: Princípio da sensação e da sensibilidade. Componente do ser que entra em contato com o mundo externo, nossa percepção sensorial se liga ao mundo e reage a ele com impressões emocionais e desejos. Mundo das relações entre o ser e o que está fora do ser. Os animais também a possuem.
(3) Alma Racional: Produz o pensamento. Componente não-humano, transcendente, noûs. Só existe nos seres humanos e impõe limites a alma sensitiva (phrônesis – os psicanalistas a denominam superego). Pois uma vida voltada apenas para os prazeres é uma vida zoológica. Temos aí uma tensão entre os constantes desejos e a repressão daqueles que são ilegítimos.
Aristóteles professa a doutrina socrática-platônica de que a essência do homem consiste na alma, particularmente na parte racional, no intelecto – somos a nossa razão e o nosso espírito.
A felicidade é viver segundo as virtudes, e estas podem ser de natureza moral (fazer a coisa certa – alma sensitiva) ou intelectual (inteligência – alma racional). A alma sensitiva é educada pelo hábito (seguir os princípios), enquanto a intelectiva é educada através dos estudos.
A virtude moral é um meio-termo entre dois vícios (potências humanas), e.g. a virtude da coragem é o meio-termo entre a covardia e a temeridade. Este meio-termo é uma constante na vida humana, que volta à tona em cada situação enfrentada pelo homem. Outros exemplos:
Iracúndia <<< Brandura >>> Passividade Adulação <<< Amistoso >>> Misantropia Intemperança <<< Temperança >>> Insensibilidade Inveja <<< Justa Indignação >>> Despeito Ganho Excessivo <<< Justiça >>> Perda Excessiva Prodigalidade <<< Liberalidade >>> Avareza Ostentação <<< Magnificência >>> Mesquinhez Jactância <<< Veracidade >>> Falsa Modéstia Irascibilidade <<< Amabilidade >>> Apatia Bufonaria <<< Sociabilidade >>> Enfado Impudência <<< Recato >>> Acanhamento
Pretensão <<< Magnanimidade >>> Estreiteza de Alma
Todo o processo moral está em controlar os desejos – a razão (alma racional) deve controlar a impulsividade da alma sensitiva, a virtude é o controle das paixões. As virtudes morais são produto do desejo de fazer bem (alma sensitiva) aliado ao conhecimento do que é o Bem (alma racional).
O ato voluntário (pleno) é caracterizado pela clara consciência das alternativas de ação – tal voluntariedade pode ser circunstanciada por ações externas coercitivas (com imposição de variada dose de (in)voluntariedade), porém não eliminando a voluntariedade do ato. Assim como gregos e troianos na Ilíada, os homens praticam atos voluntários independente do quanto ajam os deuses – a condição trágica do homem não o exime de responsabilidade por seus atos.
Atos involuntários ocorrem quando há ignorância, seja quando o agente desconhece a potencial circunstância, seja quando ele é mentalmente incapacitado (e.g. louco). Cinco circunstância podem criam a (in)voluntariedade: (1) ignorância da natureza do ato (e.g. contar algo que não sabia ser segredo), (2) ignorância da coisa (e.g. fogo-amigo), (3) ignorância do instrumento (e.g. trocaram a bala de festim), (4) ignorância do efeito (e.g. reação alérgica) , e (5) ignorância da maneira (e.g. golpe mortal em luta esportiva) – a ignorância do agente não é considerada involuntária. O ato involuntário (e.g. crime culposo) pode ser perdoado, mas também agravado por negligencia – todo ato involuntário danoso é seguido de remorso ou arrependimento.
Os desejos são associados a um fim, não necessariamente realistas. Já as escolhas são associadas aos meios e são circunstanciadas pela realidade, pelo possível – as escolhas são concretas. A felicidade não é produto de desejo, mas sim uma consequência de escolhas reais e concretas.
A ação humana é restrita àquilo sobre o qual podemos deliberar. Quatro são as fontes daquilo que existe-acontece: (a) natureza, (b) necessidade (ação-reação), (c) acaso, e, a única ao alcance do homem, (d) a ação humana organizada – mesmo restrita em cada um dentro de sua possibilidade (Deus é axiomático e está excluído da discussão).
Quanto mais aberta a possibilidades é uma determinada área humana, mais oportunidades para deliberação terá o homem (um poeta tem mais oportunidade de deliberação que um médico). O homem delibera sobre os meios e não os fins almejados através daqueles. E não deliberamos a respeito de fatos particulares (e.g. “É isto um pão?”), pois são matérias de percepção direta – origem da fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938), não devemos deliberar a respeito de obviedades.
O ser humano é autor de suas próprias ações, e seus princípios-fundamentos residem dentro dele – tribunal moral interno. O homem é responsável por suas virtudes e vícios, inclusive pelos atos de consequência involuntária, e.g. ceder à tortura, negligência, etc. Todo código moral parte da responsabilidade pelo ato.
Embora responsável por nossos atos, não somos responsáveis pelo nosso destino – máxima equivocadamente abolida no mundo moderno que ignora os grandes mistérios (mistérios divinos, inacessíveis ao homem). Devemos ser avaliados pelos atos que praticamos e não por nosso destino.
Justiça é considerada a maior de todas as virtudes, pois representa o próprio princípio de justo-meio que determina as virtudes morais – “Na Justiça se encontra toda a Virtude somada.”, frase atribuída a Teógnis (poeta de Megara do século VI a.C.). A pólis só subsiste quando há Justiça, e o homem é, por natureza, um zoon politikon. A discussão sobre a Justiça (livro V) é toda uma teoria do direito, e que servirá de base para o Direito Romano. Para o grego a Moral e o Direito (Justiça – como virtude – e Lei) eram considerados a mesma coisa – esta equivalência entre Moral e Direito se perdeu totalmente no mundo moderno. Nota-se que ao longo do livro Aristóteles distancia-se da ética coletiva da Política para uma ética individual – dos valores sociais para os valores pessoais.
As leis devem ser escoradas nas virtudes compartidas no seio da sociedade, representando uma naturalidade e representatividade necessárias para o bom funcionamento delas – leis mal engendradas “não pegam”. Legisladores modernos erram quando se baseiam apenas na lógica, sem assegurar o enquadramento na estrutura da realidade (um sinal da má qualidade de um deputado ou senador brasileiro é verificar sua uberdade na criação de leis, ou seja, de obstáculos para o indivíduo, verdadeira diarreia legislativa). A aderência à lei é mais consequência da coerência com os valores da sociedade que da sua imposição pela força. O desvio do justo-meio é desregramento moral, mas não necessariamente injusto. O adultero que busca uma prostituta é um concupiscente, o que seduz uma mulher visando lucro é injusto.
Justiça divide-se em dois tipos (1) a justiça distributiva contida nas leis que distribuem o que é de direito a cada um (define o quinhão a ser distribuído) – demanda proporcionalidade (iguais tratados igualmente, e desiguais tradados desigualmente), princípio de distribuição em função do mérito; e (2) a justiça corretiva que rege os pleitos entre as partes, seja quando há problema sobre na prestação de um contrato acordado livremente entre as partes (relação voluntária), seja quando um lado do pleito alega ter sido atacado-prejudicado pelo outro (relação involuntária). Aqui todos são tratados como iguais, julgando-se apenas os feitos, ou seja, avalia-se os danos e trata-se as partes como iguais (uma lição esquecida nos tempos atuais com o pervertido Direito Alternativo) – lida com fatos concretos considerando as partes iguais (um homem quase santo que comente um crime contra um monstro social será culpado do seu crime independentemente do mérito pessoal de cada um).
As leis são genéricas e não conseguem abranger todos os casos específicos reais – a jurisprudência pode ser justa em certos casos e injusta em outros (o erro não estaria na lei nem no legislador, mas consequência da diferente natureza dos casos). Consequentemente, não existe sistema jurídico perfeito – é necessário um decreto especial (indefinido) que propicie a chance de equidade (independente da lei positiva) – na dúvida pergunte-se o que agradaria a Deus. Assim, a equidade é justa e superior a Justiça. O homem equitativo por escolha e hábito faz o que é equitativo, e não é inflexível quanto aos seus direitos (aceitando receber menos que o devido mesmo quando a lei está do seu lado). Aristóteles nem imaginava o conflito entre Justiça e Equidade provocado por legisladores corruptos – uma doença dos nossos dias.
As virtudes intelectuais (dianoéticas) são relacionadas à alma racional. Diferentemente das virtudes éticas, estas não variam conforme o indivíduo (e.g. do adulto é diferente da criança, do homem pode distinguir do da mulher), pois são universais e buscam fundamentalmente a verdade.
O quadro abaixo apresenta os cinco meios pelos quais a alma racional apreende a verdade. Dois relacionados ao conhecimento das coisas mutáveis (logistikón) e outros três para as coisas imutáveis (epistemonikón).
A Epistême sozinha, sem os primeiros princípios (Noûs), não gera conhecimento. A ciência (mera demonstração – recortes da realidade) não consegue explicar nada sem estes primeiros princípios, pois estes propiciam a base para (convicção) sem a qual todo conhecimento seria pautado acidentalmente – Aristóteles vai de encontro ao cientificismo hodierno.
Os primeiros princípios só podem ser obtidos pelo Espírito (Noûs), um grau de conhecimento prévio, não demonstrável cientificamente, mas simbolicamente intuitivo – coincidindo com o Cristianismo (todo conhecimento demanda a ação de Deus). Noûs seria uma parte não-humana (divina) no ser humano, daí sua imortalidade (imortalidade da alma). Não há verdadeiro conhecimento humano que não tenha origem mito-poético, captado pelo Espírito (Noûs) – ver The Presence of Myth de Leszek Kolakowiski e The Myths We Live By de Mary Midgley.
Há uma sabedoria para a vida prática (Phrônesis) e outra para a vida teórica (Sophia). A sabedoria prática é fundamental para todos os seres humanos (controle das emoções – meden agan), e a sabedoria teórica é o mais alto grau de conhecimento passível de ser alcançado pelo homem (gnothi seauton – conhecer a si mesmo abrangendo a estrutura da realidade). A sabedoria prática (particular) é mais útil que a teórica (genérica), mas esta é superior àquela.
Aristóteles não considera que o Noûs controla a Phrônesis, criando a aporia sobre a origem do conhecimento prévio necessário (primeiros princípios) para fundamentar a justa-medida. Os hebreus tinham os Dez Mandamentos como guia desta fundamentação, já os gregos, na falta da lei religiosa, adotavam os exemplos dos melhores homens, dos heróis, como referência para a justa-medida (daí a importância da Ilíada e Odisseia). Mas como saber qual é o melhor modelo? Nem os deuses olímpicos são ilibados – são mera representações de características humanas. O Cristianismo conecta Noûs a Deus, estabelecendo a hierarquia (Alma-Mente-Corpo) e resolvendo a aporia ao apresentar as leis divinas que norteiam a ética humana.
Os três grandes vícios morais aristotélicos:
(a) Vicioso: É o indivíduo que não se arrepende de ser mau, porque ele constrói uma vida baseada no mal e acha que o mal é melhor do que o bem. É criminoso por definição – estelionatário, o assaltante de banco. É criminoso porque acha que a vida de crime está certa. Esse não tem solução porque não se arrepende, é incurável. Não tem outro jeito a não ser separá-lo da sociedade, porque o vicioso é cronicamente criminoso;
(b) Intempestivo: Outro tipo de crime é o intempestivo, cometido pelo indivíduo que não tem controle sobre suas emoções – mata alguém numa briga de trânsito, por exemplo. Uma pessoa como essa não é uma pessoa má em si, o que se comprova pelo arrependimento que é instantâneo. O sujeito sente culpa e remorso. Este tem solução. Para o intempestivo é possível um tipo de punição associada a uma compensação;
(c) Bestial: É o indivíduo que já tem um aspecto animalesco e já não se parece com um ser humano. Seu crime é o do bestial, o louco que mata por prazer – não reconhece fazer algo errado. Para o bestial a solução é o hospício. Outras patologias mentais além da bestialidade também podem ser perigosas para o convívio social. O louco não tem consciência de fazer o mal.
Esta divisão compreende uma abordagem legal para tipificar crimes e culpabilidade, e definir penas. A gravidade do crime-erro é proporcional ao grau de consciência do criminoso.
Indivíduos podem aparentar grande conhecimento sobre determinadas condutas, mas mesmo assim caírem no vício. Aristóteles (como Sócrates) considera que eles têm apenas um conhecimento aparente, pois o real conhecer exige um comportamento condizente com o mesmo – conhecimento precisa ser incorporado, tornar parte da estrutura mental e permear a conduta do indivíduo.
O homem cria silogismos falsos (premissas com base na doxa e não na epistême) para justificar sua conduta desvirtuada.
A amizade é uma virtude (ou envolve a virtude), e constitui uma das exigências mais imprescindível da vida. São três os tipos de amizade (abrange outros tipos de relacionamentos – prazer sexual) conforme os aspectos (qualidades amáveis: o bom, o prazer e o útil) que a despertam:
Amizade virtuosa: Atração pela comunhão nas virtudes. Apenas pessoas verdadeiramente virtuosas são capazes de construir este tipo de amizade. Durabilidade alta. Para São Tomás de Aquino “ser amigo é amar as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas”.
Amizade prazerosa: Atração pelo prazer, desde o sexual ao de puro divertimento, e.g. o amigo que é divertido em festas. Comum junto aos jovens cujos gostos modificam-se conforme avançam na idade. Durabilidade baixa, dependente da duração do prazer.
Amizade útil: Atração por utilidade (troca de favores), comum entre parentes e idosos. Podem ser precárias, suscetíveis a desaparecer junto com o fim da utilidade no caso.
Amizade demanda bilateralidade e fundamento em algo das três qualidades-bens acima. Apesar de legítimas, as amizades baseadas no prazer e na utilidade são inferiores a amizade virtuosa – o ‘prazer’ e a ‘utilidade’ são quantitativos e o ‘bom’ é qualitativo. Por ser quantitativo o prazer pode tornar-se dor, em excesso pode deixar de sê-lo – os prazeres do intelecto superam os prazeres dos sentidos.
Na falta dos Dez Mandamentos Aristóteles coloca o spoudaios como o maior modelo humano – o homem maduro voltado às virtudes intelectuais, o filósofo. A felicidade consiste na atividade de acordo com a virtude, e a maior virtude é a intelectual (quase não humana - noûs) – que nos permite entender o divino (há no homem algo de divino). A felicidade é abdicar dos nossos aspectos mais animais e buscar nosso aspecto humano que nos conecta com o divino. Na atividade da contemplação intelectual o homem alcança o vértice de suas possibilidades e atualiza tudo o que de mais elevado existe nele.
Notas
Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira (daí a alcunha de Estagirita) na Macedônia. Filho de médico, de quem provavelmente herdou o interesse pelas ciências naturais.
Ingressou na Academia de Platão aos 18 anos, nela permanecendo até a morte do mestre (348-347). Retira-se da Academia desgostoso com os rumos ditados pelo sucessor de Platão (seu sobrinho Spêusipos) em transformar a filosofia em matemática.
Apelidado por Platão como “o ledor”. Pregava a necessidade de conhecer toda a discussão anterior antes de avançar sobre uma questão ou problema (status quaestionis).
Em 342 é convidado por Felipe da Macedônia para educar seu filho Alexandre (futuramente, o Grande). Seu aluno fará grandes contribuições ao Liceu.
Em 335 regressa a Atenas e funda o Liceu.
A obra de Aristóteles é a maior contribuição individual na formação cultural do mundo. Apenas suas obras esotéricas nos chegaram, basicamente anotações de aulas feitas por seus alunos. Principais títulos (nomeado por seus comentadores): A Política, Ética a Nicômaco, Física, Metafísica, Da Alma, Poética, e Órganon.
Platão era fundamentalmente Dedutivo (do geral para o particular), ao passo que Aristóteles era Indutivo (do particular ao geral) – duas naturezas complementares. Aristóteles parte da minuciosa análise dos fatos concretos para alçar pensamentos mais abstratos.
Ética é a divisão da filosofia que estuda a Moral. O problema moral (o dilema diante do que fazer – bifurcação da vontade) é eminentemente humano, e o tribunal interno da própria consciência é implacável. Os códigos morais nascem do tribunal interno, o sentimento de culpa gera as leis externas.
A filosofia moral de Aristóteles está compreendida na Ética a Nicômaco e A Política.
Nicômaco era o nome do filho e do pai de Aristóteles. Ética a Nicômaco foi provavelmente destinada ao seu filho. Obra acroamática – anotações e aula, conhecimento transmitido oralmente.
Os jovens não deveria estudar filosofia nem participar da política até adquirir suficiente experiência de vida e aprender a controlar suas paixões. (etimologia de rapaz: ‘que toma rapidamente, que arrebata, inclinado ao arroubo’).
Eudaimonia – ‘eu’ bonito, ‘daimon’ espírito – belo espírito
A contribuição metodológica de Sócrates foi a ‘dialética’ (contraposição crítica), de Platão a ‘hierarquia dos conceitos’ e de Aristóteles a ‘análise’ (das partes ao todo). Metodologias básicas para o estudo.
Um princípio bem estabelecido é primordial para a resolução de algo: entender os conceitos pertinentes e colocar as questões devidas.
Humanista é aquele que ama a humanidade, mas odeia o próximo – esquece que a virtude só ocorre na ação.
Os gregos viam Ordem na natureza e procuravam reproduzi-la em seus atos e produtos (arquitetura, poesia, teatro, etc.). As catedrais góticas e a escolástica buscavam o mesmo objetivo reprodutor.
O platonismo destorcido ao extremo leva ao Idealismo, e o aristotelismo extremado descamba no Positivismo.
O adolescente passa por uma crise existencial porque acha que as suas crenças foram implantadas pelos pais, pela escola, pelos outros. A crise consiste em ter dúvidas sobre em que acreditar, porque joga fora tudo no que acreditava antes, mas não tem coisas novas para colocar no lugar. Projeta suas deficiências no ambiente (naturalmente tensional), exagerando, pela acusação, seus problemas. Transformando sua insuficiência em suficiência, sua impotência em prepotência, acreditando-se destinado a melhorar o mundo. Busca uma justiça perfeita que não é possível e se enerva facilmente com isso. É então objeto de manipulação ideológica por esta sua revolta. Por ainda predominar a alma sensitiva ele tem poucas condições de racionalizar esta fase. “He alone, who owns the youth, gains the future” – Adolf Hitler
O homem é moderado quando se abstém dos prazeres do corpo com júbilo, e desregrado quando o faz com sofrimento.
Virtudes não são objeto de discussão, mas sim de ação. O mundo contemporâneo hipocritamente discute virtude, ética, direitos humanos, humanismo, etc.
Só a humildade contemplativa nos aproxima das coisas divinas.
Para Sócrates a honestidade intelectual é não alegar conhecer o que não sabe e não negar saber o que conhece.
Realismo versus Idealismo: para o realista o mundo existe independentemente dele, objetivamente fora dele (e o homem o conhece de forma parcial e precária). Já o idealista (começa com Descartes – “Cogito, ergo sum” – e é reforçado com Kant – formas a priori) o mundo existe apenas como ideia-forma, dando origem a todas as perversões intelectuais modernas (e.g. relativismo, ceticismo). Ortega y Gasset derruba o idealismo com seu “Yo soy yo y mis circunstancias.”
O fato de haver diferentes códigos morais (em locais diferentes e épocas distintas), até mesmo antagônicos, apenas demonstra a necessidade de haver regramento moral, pois o fenômeno moral não é social, mas algo interno, inato no homem. Caem em erro aqueles que acreditam ser a moral um produto social, imposto pela sociedade sobre o indivíduo – mera desculpa para driblar o sentimento de culpa, ou subterfúgio para fins revolucionários. Todo o homem tem seu tribunal interno, mas por vezes, mesmo assim, ele não sabe o que fazer, apelando aos códigos morais – uma sociedade de regula todos os aspectos da vida destrói este tribunal interno e desumaniza o homem.
Equívoco = ambíguo (equi = mesmo/junto, voco=chamar – mais de um sentido para a mesma palavra)
Iniquidade = grande injustiça
Bias de Priene (político do século VI a.C., um dos Sete Sábios): “a autoridade mostrará o homem”, pois terá que ser justo não só com suas coisas, mas principalmente, com as dos demais.
A interpretação cabalística do Evangelho de São João fala dos quatro níveis da realidade como passos de retorno dados por Deus após a Criação do mundo Sensível >>> Sutil (fenômenos desconhecidos) >>> Angelical >>> Divino (inacessível ao homem).
A lei de Talião não serve como instrumento de justiça, pois há crimes que não permitem o princípio de reciprocidade (e.g. crime involuntário).
Há pessoas sábias sobre a vida apenas pela experiência (indução), correspondendo a uma Phrônesis desenvolvida (bom senso – conhecimento de vida).
Kant divide sua (má) filosofia com base na divisão aristotélica da alma racional: Crítica da Razão Pura (Epistemonikón) e Crítica da Razão Prática (Logistikón).
W. Edward Deming aplica o conceito aristotélico de “atingir a verdade segundo o processo” (Téchne) no seu processo de qualidade – a racionalidade está no processo de como fazer.
No mundo antigo Espírito e Intelecto tinham o mesmo significado.
Os mitos funcionam como uma compactação simbólica dos primeiros princípios captados pelo Espírito, e ajuda-nos a compreender a estrutura da realidade e nosso lugar nesta (os mitos ajudam a nos compreendermos melhor). Ao perdemos a capacidade de compreender os mitos caímos na limitação das analogias, perdemos a compreensão da realidade, criando fantasias mentalmente coerentes que tentam tudo desvendar mas nada explicam.
A escolástica (principalmente o tomismo), resolve a aporia aristotélica. Mas os materialistas (Renascimento, Iluminismo, Humanismo – movimentos anti-humanos) atiram o homem no infinito labirinto das mentiras que a mente humana é capaz de criar.
Para Aristóteles a sabedoria prática (Phrônesis) é condição indispensável para o Filósofo (aquele que alcança a Sophia).
Aristóteles já advertia sobre o estratagema de criar paradoxos mentais para manipular pessoas com objetivos nefastos. Dois exemplos atuais de paradoxos enganosos: a criminalidade é produto da desigualdade social, e a mulher tem direito sobre o seu corpo, logo também ao destino do feto.
Aristóteles já afirmava, com razão, que o valor de um bem é o que o comprador está interessado em pagar. Apesar desta obviedade escrita há mais de dois mil anos, Marx escreverá sobre a “mais-valia”. O Estagirista também recomendava que toda teoria que não encontra eco nos fatos concretos (realidade) deve ser descartada – exatamente o que não fizeram os seguidores de Marx (György Lukács e Antonio Gramsci) que pregaram a modificação da realidade para enquadrar-se na teoria marxistas após seu fiasco na IGG (onde trabalhadores sim pegaram em armas contra outros trabalhadores).
Após Aristóteles surgem, entre outras, duas escolas filosóficas: uma enaltecendo o prazer como o objetivo da vida (Epicurismo) e outra combatendo a vida de prazeres (Estoicismo).
Os tipos de Estado (ver A Política) emulam as relações de “amizade” familiares: Monarquia >>> Pai & Filhos (relação paternal) Aristocracia >>> Marido & Mulher (relação de excelência, complementar) República >>> Irmãos (relação de iguais)
O Brasil é uma nação voltada para o prazer, portanto tolo e pueril. “Civilização é repressão” – Freud. O Brasil é incapaz de empreender um projeto civilizacional.