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What the bleep do we know!? (2004) & The Vow (2020)


Yo soy yo y mi circuntancias... – Ortega y Gasset resgatando a sanidade do mundo das garras do Idealismo


O filme 2004, nomeado no Brasil como Quem somos nós?, só é relevante para compreendermos o movimento cultural Nova Era e as mazelas que tem promovido no mundo contemporâneo.

Basicamente o filme nos diz que não há realidade concreta efetiva, mas apenas algo que a nossa mente produz – propõe que substituamos o mundo real e concreto por nosso mundo mental. Naturalmente ambos existem, com a diferença que no mundo real nossa vontade pouco ou nada influi, enquanto em nossa imaginação somos reis absolutos.

O confronto entre estes dois mundos (realidade externa e interna) é algo confuso na infância, mas na medida que amadurecemos intuitivamente tornar-se obvia a diferença entre a realidade efetivamente possível e a vontade imaginativa. Mas o filme trata a audiência como uma criança, ou um demente, pois a incapacidade de distinguir a realidade constitui patologia grave.

Mas como chegamos ao ponto de um filme como este fazer sucesso e ser encarado seriamente? O grego Epicuro já proporá algo similar mas nunca foi levado a sério. Mas no Renascimento René Descartes retoma esta linha de pensamento acreditando que existia por ter a capacidade de pensar (“Penso, logo existo.”), esquecendo que primeiro precisava existir para poder pensar. E Immanuel Kant, com usa formas a priori (a realidade é apenas uma interpretação da mente), e Hegel terminam por fazer o estrago, jogando a filosofia na vala que se encontra até a hoje. Acaba o conceito de transcendência, tudo é imanente ao ser humano. O homem é seu próprio criador e tem o poder de controlar todos os aspectos da vida – é o ápice da húbris, esquecemos o mandamento “Gnothi seauton”.

A Bíblia nos diz que não somos deste mundo, mas estamos neste mundo. Cosmologicamente este é um mundo de ilusões, mas enquanto fazemos parte desta ilusão este mundo é real e concreto. A vida humana é uma sequência de situações dramáticas, uma tragédia natural – como bem ensinouo teatro grego. A miséria é intrínseca à vida – as coisas podem dar muitoerrado apesar de tudo que você faz para que deem certo.

O filme faz campanha para perdermos a noção do que é real, e nisto há um propósito diabólico (o demônio faz todo possível para evitar nossa comunhão com Deus) – a essência do gnosticismo é acreditar que o homem faz sua própria salvação. O primeiro passo para transformar alguém num ser suscetível de ser conduzido é destruir a noção de realidade e, em seguida, a noção de certo e errado. Então vende-se o sonho humano de um mundo sem dor ou sofrimento, sem doença ou esforço, onde seríamos imortais – o Welfare State socialista é apenas um dos modelos deste engodo.

Descartado o Criador, desfeitos os preconceitos, ganhamos autoridade sobre este mundo para recriá-lo e recriar-nos – um novo mundo a nossa imagem e semelhança. E para tal o Estado lhe ditará como se comportar, o que pode-se falar, o que comer, que remédios ou vacinas tomar… tudo para concretizar o paraíso terrestre. E está pronto o cenário para os barbáricos experimentos de controle social e o totalitarismo absoluto (o Camboja do Khmer Vermelho é logo ali). Mas para estabelecer a nova ordem mundial é preciso antes destruir a ordem antiga e, ainda, presente. E este é um projeto em estado avançado de implementação.

Em tempo, os realizadores do filme foram todos alunos da Ramtha School of Enlightenment, cuja fundadora alega contato espiritual com um ser iluminado (Ramtha) que já viveu 35 mil anos… pois é.


 

Um dos diretores de What the bleep!?, Mark Vincent, é o principal condutor da narrativa sobre o, já extinto, culto NXIVM (cujo discurso se assemelha em tudo ao do Ramtha School of Enlightenment) na série-documentário The Vow. Logo no início Mark orgulhosamente nos conta que apesar de ter nascido em uma família religiosa seguiu os passos de sua rebelde mãe e livrou-se da religião. Deve ser por isso que abraçou Ramtha, afinal, como dizia G. K. Chesterton, “quem não acredita em Deus, não é porque não acredita em nada, mas porque acredita em qualquer coisa”.

Na sequência ficamos sabendo que membros da MXIVM convidaram Mark para conhecer e, finalmente, juntar-se ao grupo (quem já acreditava em Ramtha nem precisava de lavagem cerebral), onde galgou os mais altos postos e permaneceu como fiel discípulo por 12 anos, até convencer-se dos crimes praticados dentro de culto e abandoná-lo.

The Vow é implacável com o psicopata fundador da MXIVM, mas em nenhum momento aborda o vazio existencial que permitiu seus seguidores serem tão facilmente manipulados. Vemos um grupo de ex-adeptos combatendo o culto enquanto desfilam sua mentalidade messiânica e narcisismo, acreditando-se vítimas de um monstro que explorou suas melhores intenções de construírem um mundo melhor. Em nenhum momento demonstram entender que eles também são o problema.

Observando a proposta da Nova Era e o processo de sedução de membros para seus inúmeros cultos, fica fácil entender a dificuldade de comunicar-se com uma parcela da população, cada vez mais crescente, que parece viver em um outro mundo. Você não precisa mais filiar-se a um culto para desconectar-se da realidade, o processo de aliciamento está generalizado e é ministrado, principalmente, nas escolas, no entretenimento (cinema, TV, música, etc), e na mídia. Não há como escapar, o único refúgio é a sanidade do espírito. Daí a importância de conhecermos as grandes obras e pensadores do passado, eles funcionam como um antídoto à galopante decadência contemporânea.



What the bleep do we know!?: filme nota 1 (escala de 1 a 5)


The Vow: série-documentário nota 1 (escala de 1 a 5)



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