Personagens Principais Molloy – vagabundo, acamado, erudito Malone – velho, asilado e doente Inominável – imóvel, vive numa jarra (Malone já morto?)
Personagens Secundárias Mag – mãe morta de Molloy, apenas citada Moran – investigador particular, pedante, adoece (Molloy?) Sapo (Macmann) – menino, depois adulto, narrado por Malone Moll e Lemuel – enfermeiros narrados por Malone Mahod (Basil) e Worm – prováveis facetas do Inominável Murpy, Mercier e Watt – personagens citados de novelas anteriores a trilogia
Interpretação “What was God doing with himself before the creation?” - Molloy “Nothing is more real than nothing.” – Malone “I can't go on, I'll go on.” - Inominável
A trilogia composta por Molloy, Malone Muert e O Inominável foi escrita no mesmo período de Esperando Godot, sendo a peça apresentação dramática da visão desenvolvida naquelas novelas.
O destino das três personagens principais demonstra que seguir vivendo, naquele universo, leva a lugar nenhum. Eles parecem em busca de algo, mas encontram apenas uma crescente desilusão e terminam na condição do Inominável, ou seja, perplexo, perdido, completamente desiludido até com a possibilidade do conhecimento, mas incapaz de não seguir falando com sigo mesmo e tentar explicar o inexplicável.
Aquelas personagens estão interligadas por uma série de similaridades – deficiências físicas, roupas, detalhes das personalidades, preocupações, e como viajantes e escritores – levando a pensar tratarem-se da mesma pessoa, ou da síntese da humanidade – em diferentes estágios de um processo de crescente desesperança com a cognição e a ação.
Ao divisar o despropósito e nulidade do pensamento os protagonistas começam a aspirar pelo silêncio (morte como silêncio). Mas presos na infinita necessidade de seguir agindo e/ou pensando eles percebem o tempo como uma “grande prisão”. Se os primeiros protagonistas ainda retinham um fio de esperança em encontrar um propósito, o Inominável a perde totalmente caindo num monótono presente eterno descrito como o inferno.
Assim a situação das personagens na Trilogia em nada difere de Esperando Godot, e, como a peça, as novelas em questão transmitem a mesma mensagem de falta de sentido na vida, com o esgotamento da possibilidade de ação humana dada a perda de noção de nossa própria existência.
Notas
Samuel Beckett (1906-1989) nasceu num subúrbio de Dublin, Irlanda (Eire).
Autor crítico e dramaturgo, ganhador do prêmio Nobel em 1969. Escreveu em francês e inglês, e é conhecido principalmente pela peça Esperando Godot (1952).
Destacam-se ainda a trilogia de novelas Molloy (1951), Malone Muert (1951) e O Inominável (1953), e a peça Fim de Partida (1957).
Assim como Franz Kafka, a obra de Beckett transmite sensação de angústia – são os grandes poetas da desesperança..
Em 1969 Beckett recebe o prêmio Nobel "for his writing, which - in new forms for the novel and drama - in the destitution of modern man acquires its elevation". A maioria dos críticos vê Beckett como um revelador da real condição humana – o conteúdo da sua obra seria “a busca de si mesmo”. Alguns o veem como o arauto do solipsismo (doutrina segundo a qual só existem, efetivamente, o eu e suas sensações, sendo os outros entes (seres humanos e objetos), partícipes da única mente pensante, meras impressões sem existência própria). Afinal o que Beckett nos queria dizer? Denunciar a decadência humana ou, como um apologista da nova ordem, expor um falso absurdo da nossa existência?
A trilogia esgota o tema apenas parcialmente desenvolvido nas novelas anteriores (Murphy e Watt) e atinge um impasse. Beckett publica apenas mais uma novela, Comment c’est em 1961, sem conseguir sair da temática já desenvolvida.