"I can't see America any other way than with a European's eyes. It fascinates me and terrifies me at the same time." – Sergio Leone
A contribuição de Sergio Leone é cinematograficamente estilística. Seus westerns são esvaziados do simbolismo moral e roteiros apurados de diretores como John Ford e Anthony Mann, ao contrário, Leone tenta subverter o gênero com seus heróis sombrios e problemáticos movidos pela ganância, vingança, malícia ou, no máximo, por um grosseiro senso de justiça. Mas ele não consegue (ou não quis) eliminar a principal atração dos westerns: a independência do protagonista e sua capacidade de viver conforme suas regras dentro da sociedade. Num mundo onde cada vez mais o coletivismo sufoca o indivíduo, filmes com esta temática terão público – ao menos até que o último “indivíduo” sucumba.
A Trilogia do Dólar (A Fistful of Dollars (1964), For a Few Dollars More (1965) e The Good, the Bad and the Ugly (1966)) catapultou a popularidade do spaghetti western com sua violência, tiradas satíricas, personagens calados e pistoleiros com capacidade sobrenatural. Mas nenhum outro diretor europeu copiou tão bem a exploração dos grandes espaços praticada nos westerns americanos e, principalmente, trabalhou tão bem o uso de close-ups, do “tempo morto”, do silêncio e da trilha sonora (Ennio Morricone).
Em Once Upon a Time in the West (1968) Leone põe em prática tudo que aprendeu com a trilogia acima. Perdeu o tom satírico e ganhou ainda mais qualidade visual. É uma grande fantasia sem qualquer compromisso com a realidade.
O desapego a história e fatos se repete em Once Upon a Time in America (1984) com seus gangsters judeus que mais parecem italianos – uma estilística quimera sobre a decadência moral que nos ajuda a afastar-nos do mal, feio e falso.