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Sam Peckinpah (1925-1984)

I want to be able to make westerns like Akira Kurosawa makes westerns.” – Sam Peckinpah


Sam Peckinpah teve um início conceituado na televisão (co-criando um western para TV, The Rifleman (1957–1963), e criando outro, The Westerner (1960)), e teve como mentor o diretor de filmes de ação Don Siegel. Com esta bagagem se distinguiu nas telas com grandes westerns, fazendo mais do que qualquer outro cineasta para trazer este clássico gênero para a ambiguidade e ironia da era moderna, incluindo alguns dos mais emocionantes duelos e cenas de ação já exibidos nas telas.


A introdução de significativas inovações na representação da violência no cinema nos anos 1960 valeram-lhe a alcunha de Bloody Sam. Mas por trás da violência seus filmes celebravam o espírito humano abordando temas como honra, coragem, lealdade, com uma saudável exposição de masculinidade.


Com uma vida pessoal e profissional conturbada, Peckinpah realizou apenas 14 longas-metragens. Entre eles se destacam os seguintes:


Ride the High Country (1962): Veterano da guerra civil americana é contratado para transportar ouro de uma comunidade mineira através de um território perigoso, sem saber que seu parceiro e velho amigo está planejando traí-lo. Peckinpah acerta a mão neste seu segundo longa-metragem com um western sobre dois velhos homens da lei (interpretados por Joel McCrea e Randolph Scott) enfrentando a mudança dos tempos. Uma lição de moral, honra e dever – “All I want is to enter my House justified.” A cena final é grandiosa: o corpo do protagonista cai inerte para fora do enquadramento restando as montanhas em foco, comparando a estatura da vida daquele homem com o perene esplendor das montanhas.


The Wild Bunch (1969): Bando de envelhecidos bandidos busca um último grande golpe enquanto o velho oeste americano está desaparecendo ao seu redor. A narrativa revisita alguns dos temas de Ride the High Country como velhice, amizade e traição. Mas desta vez Peckinpah retira o heroísmo e introduz um código de honra destorcido em um mundo cada vez mais cínico. A cena de abertura com as crianças torturando escorpiões reverencia o moribundo velho oeste com a passagem dos antigos bandidos como daquele bando que operavam de acordo com um código de honra (mesmo que destorcido), para as mãos de uma nova geração que aprende a matar de forma mais impessoal, como um jogo – esta mensagem se repete nas crianças divertindo-se com a tortura da personagem Angel,e com a criança que atira em Pike ao final. É o melhor filme de Peckinpah, um poema visual. Imperativo assistir na versão estendida com 144 minutos.


Straw Dogs (1971): Jovem americano (interpretado por Dustin Hoffman) e sua esposa inglesa chegam à zona rural da Inglaterra e enfrentam um assédio local cada vez mais cruel. Peckinpah apresenta um estudo sobre a violência neste seu primeiro filme non-western. A acovardada personagem de Hoffman vai encontrar sua masculinidade quando aprende a matar para proteger seu lar. Porém o filme insinua que ele perdeu sua alma no processo quando diz não saber o caminho de casa – remetendo ao Home da frase simbólica de Ride the High Country. O filme ganha cada vez mais relevância e atualidade em função do seu clima de rompimento do tecido social em direção ao caos – a desumanização simbolizada nos “cachorros de palha” chineses.


The Getaway (1972): Ex-presidiário recém-libertado (interpretado por Steve McQueen) e sua esposa (interpretada por Ali MacGraw) fogem depois que um assalto a banco se complica. Implacável história de roubo, assassinatos, sequestro, suborno e extorsão em meio a um drama de adultério. A vívida direção de Peckinpah faz justiça ao bom roteiro de Water Hill.


Pat Garrett & Billy the Kid (1973): Pat Garrett (interpretado por James Coburn) é contratado como homem da lei em nome de um grupo de criadores do gado do Novo México para enfrentar seu velho amigo Billy the Kid (interpretado por Kris Kristofferson) – uma visão mitológica de eventos reais ponteada com acordes da guitarra de Bob Dylan (responsável pela trilha sonora). Peckinpah faz sua despedida do Velho Oeste. E é uma despedida tão bela quanto infame: se em Shane (1953) a criança corria atrás do herói pedindo que ele voltasse, agora uma criança corre atrás de Garrett lhe atirando pedras. Há vários momentos impactantes, destacando-se a edição de abertura e a morte da personagem Xerife Baker (interpretada Slim Pickens) com ‘Knockin’ on Heaven’s Door de fundo musical. Nota negativa para a incapacidade de Bob Dylan e Rita Coolidge (então esposa de Kristofferson) atuarem.


Bring Me the Head of Alfredo Garcia (1974): Um pianista de bar americano e sua namorada prostituta viajam pelo submundo mexicano para receber a recompensa pela cabeça de um gigolô morto. Anti-heróis, desesperança, morte e uma obscura redenção em road movie bizarro. Dizem que o filme reflete o desespero do diretor que então via sua vida através do fundo de uma garrafa. Pode bem ser verdade.


Cross of Iron (1977): Comandante alemão (interpretado por Maximilian Schell) coloca um esquadrão em extremo perigo depois que o sargento Rolf Steiner (interpretado por James Coburn) se recusa a mentir por ele. Peckinpah faz seu habitual uso de cross-cutting, câmera lenta e múltiplos pontos-de-vista nas cenas de ação neste seu único filme de guerra. Uma visão antiguerra através das mazelas anímicas individuais que não deixam de existir, e até se exacerbam, em tempos de guerra. Foi o último filme relevante do diretor.

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