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Penca de Filmes dos Anos 1980



Seguem curtas anotações sobre alguns filmes lançados ao longo da década de 1980 (notas dos filmes entre parênteses – escala de 1 a 5):

Casualties of War (1989): Durante a Guerra do Vietnã, um soldado se torna um estranho em seu próprio esquadrão quando este sequestra desnecessariamente uma aldeã. Animado com o sucesso de Platoon (1986) and Full Metal Jacket (1987) De Palma também quis fazer seu filme antiguerra resgatando um artigo publicado pela The New Yorker em 1969. Propagandístico, enfadonho e mal atuado, o filme arrecadou menos que seu custo. (1)


Dead Bang (1989): Suspeito de assassinato está ligado a um grupo de supremacistas brancos fortemente armados. O diretor John Frankenheimer tenta, sem sucesso, capitalizar sobre a popularidade do ator Don Johnson num action-thriller que até poderia ter funcionado se tivesse menos lacração e personagens menos estereotipadas. (2)


K-9 (1989): O cão dá um banho de interpretação no canastrão Jim Belushi. Pena que o enredo seja ruim demais. (2)


Say anything… (1989): Filme com mensagem destrutiva para os jovens. O subtítulo poderia ser “como um sujeito espiritual, moral e intelectualmente débil pode destruir a vida de uma jovem”. A banalidade do filme não surpreende já que é dirigido por Cameron Crowe, quem em seu primeiro “sucesso” como roteirista (Fast Times at Ridgemont High em 1982) afirmava ser saudável os jovens pensarem apenas em sexo, drogas e rock n’ roll. (2)


War of the Roses (1989): Humor negro reunindo a trinca de Romaning the Stone e The Jewel of the Nile (Michael Douglas, Kathleen Turner e Danny DeVito. Sem graça e deprimente. (1)


Maria Callas: La Divina – A Portrait (1988): Documentário sobre a grande soprano de bela voz e rara expressão dramática. Vida complexa, morreu aos 53 anos de idade, quase em reclusão. (2)


Naked Gun (1988): Resgate da série televisiva Police Squad! de 1982,uma divertida sátira non-sense das séries policiais. (3)


Extreme Prejudice (1987): Texas Ranger e um cruel chefe do narcotráfico foram amigos de infância, mas agora são adversários. Western moderno dirigido por Walter Hill com roteiro exagerado e personagens pouco construídas. O épico tiroteio final na vila mexicana é claramente uma homenagem ao final em The Wild Bunch, dirigido pelo mentor de Walter Hill, Sam Peckinpah. (2)


No Way Out (1987): Uma caça às bruxas tem início depois que um político mata acidentalmente sua amante. Kevin Costner começava a usufruir da ribalda depois do sucesso em The Untouchable (1986). Thriller político que começa lentamente mas entretêm na parte final. (3)


Planes, Trains and Automobiles (1987): Comédia com final previsível e algumas tiradas entretidas. (2)


Someone to Watch Over Me (1987): Primeiro filme policial dirigido por Ridley Scott. Errou a mão no roteiro e na péssima atuação de Tom Berenger como protagonista. A redenção no gênero viria com Black Rain (1989) e American Gangster (2007). (2)


The Running Man (1987): Aventura para explorar os músculos de Arnold Schwarzenegger. Interessante como apresenta a mídia como ferramenta de manipulação social. O enredo é forçado e a conclusão é banal. (2)


Henry: The Portrait of a Serial Killer (1986): O mal encarnado. Mas qual o objetivo de fazer um filme apenas mostrando a rotina de um psicopata assassino que não é preso ao final? Parece que o homem moderno tem fascínio por seus instintos mais baixos. (1)


Little Shop of Horrors (1986): Um tédio. Só funcionaria se fosse uma sátira ao ambientalismo por ter planta assassina como protagonista. (1)


Night of the Creeps (1986): Tentativa fracassada satirizar filmes B de horror. Sem graça, sem sustos. Só dá mesmo é para rir dos ridículos efeitos especiais. (1)


Nine 1/2 Weeks (1986): Retrato da galopante banalização das relações amorosas nos anos 1990. Kim Basinger em plena forma (física). (2)


Peggy Sue Got Married (1986): Um ano após o sucesso da comédia juvenil Back to the Future, Francis Ford Coppola tenta fazer uma versão adulta com retoques feministas, e falha miseravelmente. (2)


Clue (1985): Seis convidados são convidados anonimamente para jantar em uma mansão estranha, mas depois que seu anfitrião é morto, eles devem cooperar entre si para identificar o assassino enquanto os corpos se acumulam. Baseado no jogo de tabuleiro Detetive. Comédia com alguns poucos momentos engraçados. (2)


Gotcha! (1985): Aventura juvenil. (2)


Runaway Train (1985): Ruim. A badalação em torno do filme deve-se a panfletagem anti-encarceramento. Presídio estereotipado ao extremo, o diretor então nem se fala. Mostra a empresa ferroviária como desalmados capitalistas. O roteiro poderia ter sido escrito pelo Herbert Marcuse. (1)


Out of Africa (1985): Romance com mensagens progressistas, principalmente feminista. Lento e pouco interessante apesar da presença marcante das principais personagens interpretadas por Robert Redford e Meryl Streep. Direção de Sysney Pollack. (2)


Prizzi’s Honor (1985): Deliciosa comédia de humor negro com um dos mais engraçados e marcantes gangsteres do cinema (William Hickey como Don Corrado Prizzi). Selo de qualidade do diretor John Huston. (3)


The Jewel of the Nile (1985): Tentativa frustrada de reeditar o relativo sucesso de Romancing the Stone do ano anterior. Enredo muito mais fraco. (2)


1984 (1984): Fiel ao livro de George Orwell e bem executado. Deprimente como deveria ser. (3)


2010 The Year We Make Contact (1984): Sequência decepcionante de 2001 A Space Odyssey. Não explica nada e termina com mensagem bundalelê substituindo Deus por alienígenas. (2)


Dune (1984): Desastre. Roteiro truncado, quase incompreensível. Personagens mal construídas, não geram empatia. Vilões caricatos ao ridículo. Um desastre do diretor David Lynch. (1)


Flashpoint(1984): Para encomendado para alimentar a teoria de que o próprio governo americano matou Kennedy. (2)


Near Dark (1984): Vampiros água com açúcar. Vendo os créditos entendemos o porquê. (2)


Red Dawn (1984): Os EUA foram invadidos pelos comunistas russos e cubanos. Um grupo de jovens se rebela contra o terror. Interessante, e com alguns bons valores de liderança e coragem. (3)


Repo Man (1984): Apologia a rebeldia e mau comportamento da juventude. Uma bobagem. (2)


Romancing the Stone (1984): Aventura na esteira de Indiana Jones. Boa química entre os protagonistas Michael Douglas, Kathleen Turner e Danny DeVitto. (3)


The Karate Kid (1984): História de amadurecimento, a tradicional jornada do herói forjando sua alma. O mentor purifica as intenções do aluno (aprender a lutra pelas razões certas), equilibra sua alma, e empreende a luta do mundo antigo (conservador) contra o mundo moderno representado por Cobra Kai. Preenchendo a ausência do pai (Espírito), o mentor conduz o aluno para o mundo da tradição (herança do melhor do passado) – ao final o aluno volta ao seio do melhor da humanidade. Arte marcial é uma catarse da potência de violência natural no homem, dando-lhe vazão de forma controlada. A dupla de atores protagonistas Ralph Macchio e Pat Morita voltariam em duas sequências – The Karate Kid Part II (1986) e The Karate Kid Part III (1989) – com qualidade decrescente. (4)


This is Spinal Tap (1984): Sátira dos grupos de Heavy Metal. Divertido mas superestimado. (3)


Danton (1983): Excelente trabalho do diretor polonês Andrzej Wajda. Em novembro de 1793, Danton retorna a Paris ao saber que o Comitê para a Segurança Pública, sob o incitamento de Robespierre, iniciou uma série de execuções em massa. Confiante no apoio do povo, Danton entra em conflito com o seu antigo aliado, mas o calculista Robespierre rapidamente prende Danton e os seus seguidores, julga-os perante um tribunal revolucionário e envia-os para a guilhotina.Poucas vezes o cinema conseguiu reproduzir tão bem o horror da Revolução Francesa e a gravidade patológica da mentalidade revolucionária. (4)


The Right Stuff (1983): Baseado na versão romanceada de Tom Wolfe sobre a corrida espacial. Interessante para quem viveu aquela época. Peca em não mencionar o blefe russo. (3)


The Fourth Man (1983): Escritor tem tido visões de um perigo iminente enquanto começa um caso amoroso com uma mulher que pode levá-lo à ruína. Desastroso trabalho Paul Verhoeven ainda em sua terra natal. A personagem principal é alcoólatra, sodomita e, adivinhe, um católico fervoroso… contrassenso? Não, apenas mais uma forçada e repetitiva artimanha para choquer la bourgeoisie. (1)


The Dead Zone (1983): Homem acorda do coma e descobre que tem uma capacidade psíquica de prever eventos futuros. Mais uma das inúmeras histórias de Stephen King levadas ao cinema. A premissa e os atores mereciam uma produção e direção melhores – David Cronenberg devia estar embriagado durante as filmagens. (2)


The Osterman Weekend (1983): Durante a Guerra Fria, um polêmico jornalista de televisão é abordado pela CIA para persuadir três amigos, supostos agentes soviéticos da rede Omega, a desertar. Baseado no romance homônimo de Robert Ludlum. Ultimo filme de Sam Peckinpah que morreria no ano seguinte aos 59 anos de uma vida conturbada. Como em The Killer Elite (1975), Peckinpah não teve oportunidade de ajustar o roteiro que apresenta inúmeras falhas, comprometendo irremediavelmente o resultado final. Triste crepúsculo para o diretor de The Wild Bunch (1969). (2)


War Games (1983): Aventura juvenil com visões rousseaunianas com a profundidade de uma poça de água. (3)


48 Hours (1982): Policial com dose certa de comédia. Do tempo que não tinha o engodo do politicamente correto. (3)


Cat People (1982): Jovem órfã (interpretada por Nastassja Kinski) desde tenra idade finalmente se reencontra com seu irmão mais velho. As coisas começam a dar errado quando ela lentamente descobre a verdadeira natureza de sua família. Desastrosa tentativa do diretor Paul Schrader em reescrever o clássico homônimo (1942) de Jacques Tourneur. (2)


No Place to Hide: The Strategy and Tactics of Terrorism (1982): G. Edward Griffin apresenta as ligações da URSS com as diferentes unidades terroristas espalhadas pelo mundo. Explica como o objetivo comunista é enfraquecer governos através da reação da população a crises estrategicamente fomentadas (crise econômica, insegurança, distúrbios internos, minorias revoltadas, etc). (3)


Summer Loves (1982): Filme feito para estimular a libido dos jovens e desvirtuá-los da sacralidade do sexo. Vale apenas pelas cenas de Santorini e outras localidades da Grécia. (2)


The Year of Living Dangerously (1982): Correspondente australiano (Mel Gibson) envolve-se com attaché inglesa (Sigourney Weaver) durante o tumultuado ano de 1965 na Indonésia liderada por Sukarno. O diretor Peter Weir desperdiça a chance de retratar aquele momento histórico, preferindo uma abordagem superficial e destorcida. A figura do diminuto cameraman é demasiadamente falsa, e não só pelo fato de ser inconvincentemente representado por uma atriz (Linda Hunt). A forçada pureza cristã da personagem não combina com seu choroso lamento de “what must we do” remetendo ao “what is to be done” de Lenin – pura propaganda. Ao final o protagonista, como Gloster de Rei Lear, precisa perder a visão, mesmo que momentaneamente, para enxergar o seu erro. (2)


Das Boot (1981): Bom filme de guerra baseado no romance autobiográfico do correspondente de guerra Lothar-Günther Buchheim. Claustrofóbica sensação ao acompanhar os tripulantes de um submarino alemão na II GG. Nenhum outro filme conseguiu capturar de forma tão realista a vida naquela situação. (4)


The Professional (1981): Jean-Paul Belmondo e seu lado canastra em filme de aventura irregular. Tem seu lado propaganda mostrando o governo francês como moralmente corrupto e imiscuindo-se nos assuntos africanos. (3)


History if the World Part I (1981): Alguns bons momentos, mas não a altura dos trabalhos anteriores de Mel Brooks. (3)


The Howling (1981): Para quem tem medo de lobisomem. (1)


Prince of the City (1981): Peça de propaganda orquestrada para mostrar a corrupção do sistema, principalmente da polícia. O ator principal (Treat Williams) é demasiadamente fraco. Direção de Sidney Lumet. (2)


S.O.B. (1981): Sátira sobre os interesses econômicos e degeneração moral da indústria cinematográfica de Hollywood. Nem o público escapa do azedume do diretor. Blake Edwards já não era o mesmo de Pink Panther, Breakfast at Tiffany's e The Party. (2)


Victory (1981): A Resistência Francesa e oficiais britânicos planejam a fuga do time de futebol de prisoneiros aliados durante uma partida contra a seleção alemã disputada na Paris ocupada pelos nazistas. Esforço de John Huston em fazer de um jogo de futebol metáfora para a guerra. Apesar da participação de vários jogadores famosos (Pelé, Bobby Moore, Ardiles, Deyna, entre outros) as cenas de futebol decepcionam. (2)


American Gigolo (1980): Prostituto de Los Angeles (interpretado pelo insípido Richard Gere) é acusado de um assassinato que não cometeu. Tentativa de thriller do roteirista e diretor Paul Scharader que mais parece um music clip ruim da MTV. Narrativa e personagens vazios de sentido, bem ao gosto popular da disco era. (1)


Cruising (1980): Exemplo da decadência do diretor William Friedkin. Na época causou polêmica por expor o mundo sadomasoquista dos sodomitas, mas o roteiro não empolga e as repetidas cenas entre homossexuais provocam asco. (1)


Lightning Over Water (1980): O diretor alemão Wim Wenders abandona as filmagens de um de seus projetos para ajudar seu amigo e colega diretor Nicholas Ray a criar seu último filme antes de morrer, mas consegue apenas realizar um documentário deprimente sobre um moribundo. O filme é caótico tanto emocional como esteticamente, e nunca diz a que veio. Pode ter sido uma bem-intencionada homenagem de um diretor mais jovem ao mestre mais velho, mas o resultado é desastroso. (1)


Moscow does not believe in tears (1980): A história de três moças utilizada para propaganda do decadente sistema soviético. Mostra um povo sempre cortês, alegre e cantando, lista louvores ao sistema (e.g. "nosso sistema de saúde é o melhor do mundo") e apregoa o feminismo visando atrair o público feminino ocidental. (1)


Serial (1980): Filme tolo mas revelador da doença espiritual dos nossos dias. A perda da transcendência e ordem cósmica empurra o ser humano na busca de novos valores dentro de si mesmo (egolatria) – “explosão da consciência” que levou, entre outras coisas, a Esalen e a experimentação com drogas. Bombardeamento de informações e vida corrida (sem tempo para reflexão) dificultam o ato de pensar e empurra-nos para buscar as ideias prontas fora de nós. Ataque as tradições, principalmente família e religião, provoca confusão e perda de sentido, tornando o indivíduo infeliz e ansioso pronto a buscar novas alternativas. O indivíduo fica mais propenso a fugir de suas responsabilidades diante deste mundo desconhecido e hostil. De 1980 para cá esta situação só piorou. (2)

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