Personagens Principais Ievguêni Bazarov – estudante de medicina, niilista Arkádi Kirsánov – estudante formando, amigo de Bazarov Ana Odintsova – jovem aristocrata, amada de Bazarov Personagens Secundárias Nikolai Kirsánov – senhor de terras, pai de Arkádi Pável Kirsánov – aristocrata, irmão de Nikolai e tio de Arkádi Kátia – irmã de Ana, amada de Arkádi Vassíli e Arina – pais de Bazarov Feniêtchka – amante de Nikolai Evdoksiia Kukshina – mulher emancipada e progressista
Interpretação Jovem para homem de meia-idade: “Você tem conteúdo mas não em força”. Homem de meia-idade responde ao jovem: “Você tem força mas não tem conteúdo”. – De uma conversa contemporânea
Esta epígrafe de Pais e Filhos idealizada, mas depois eliminada, por Turguêniev deixa claro que seu romance aborda o conflito de gerações. Contra a ordem estabelecida e a tradição insurgia-se uma nova geração influenciada pelo iluminismo francês (fomentada com o pós-guerra napoleônica) e o materialismo alemão (gestado nas universidades alemãs) que já inspirara seus pais. Bazarov, arrastando Akkádi, bate-se contra os aristocratas liberais Nikolai e Pável de forma arrogante e destrutiva. Também enfrenta, mas de maneira respeitosa e carinhosa, a tradição do povo russo representada por seus pais. A principal mensagem nesta questão é de Vassíli, respeitando a força e energia da nova geração, mas não admitindo desprezo pela geração anterior. Após o duelo, Pável se beneficia dos conhecimentos da nova geração e Bazarov comporta-se com os princípios da velha geração.
A maior batalha de Bazarov é interior. O artificialismo do novo homem que ele tenta representar desmorona diante da sua própria natureza (o amor por Ana). Bazarov fala em pura ciência mas, naturalmente, sua ações refletem emoções e interesses nada científicos. Demonstra exacerbada vaidade na estância de Kirsánov, é cínico em aproveitar a hospitalidade de Evdoksiia, é tirânico em sua relação com Arkádi, e esconde seus sentimentos quando fala do corpo perfeito para dissecção de Anna. Para Otto Maria Carpeaux vemos a “tragédia de Bazarov, um homem generoso(?) incapaz de viver conforme a doutrina desumana que professa”. Ele está dividido entre a tradicional herança dos seus pais e o vazio espiritual da era moderna.
Bazarov é um ressentido social e quer messianicamente mudar o mundo. Mas não está totalmente desprovido dos conceitos morais e, incapaz de solucionar seu conflito interno, termina numa espécie de suicídio. Arkádi se salva pois não sofre do mesmo ressentimento de Bazarov e nem da hübrys deste. No fim Bazarov parece reconhece seu erro: “Sou necessário à Rússia... Não, é óbvio que não sou!” e um leve beijo na testa lhe é ao final suficiente.
Depois do utopista desprovido de ação representado por Rúdin, Bazarov parece o passo intermediário para desabar no messiânico Piort apresentado por Dostoiévski em Os Demônios.
Notas
Ivan Sergeievitch Turguêniev (1818-1883) nasceu em Oriol na Rússia. Otto Maria-Carpeaux o considera criador do romance ideológico da Rússia.
Pais e Filhos, publicada em 1862, é considerada sua obra-prima. Outras obras importantes são: Diário de um caçador, (1852), Rudin (1855), O primeiro amor (1860 - conto) e Fumaça (1867).
A Rússia passava por grandes transformações quando Pais e Filhos foi escrito. Alexandre II emancipou os servos em 19/02/1861(a história do livro passa-se me 1859). Vários grupos ideológicos discutiam e disputavam qual seria o melhor caminho para a nação.
Apesar de admirador do crítico literário Vissarion Belínki, que via a literatura instrumento de transformação social, e preocupado com os problemas da sociedade da época, Turguêniev lançou um olhar observador e não ideologizado sobre o embate de ideais de então – dizia querer apenas registrar aquilo que Shakespeare chamava de “forma e pressão” do seu tempo.
O autor simpatiza com as ideias de Bazarov mas despreza seus métodos.
O romance foi criticado tanto pelos favoráveis a europeização da Rússia como pelos socialistas e os tradicionalistas (valorização dos valores e cultura russa).
Para Dostoiévski, Turguêniev estava entre os utopistas da geração de 1820s representada por Stiepan em Os Demônios (Bazarov seria o pai espiritual de Nietcháviev – transformado na personagem Piort em Os Demônios).
A personagem Sêmion Karmazínov de Os Demônios teria o intuito de ridicularizar Ivan Turguêniev.
O discurso de terra arrasada de Bazarov era similar as ideias de Bakunin que naquele momento escapava da Sibéria para Londres.
Pais e Filhos popularizou o termo niilista. Para Tuguêniev niilista seria o homem para quem só existem motivos de utilidade política e social, de modo que tinha um “nada”, “nihil” na alma ao invés de sentimentos humanos.