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Otto Preminger (1905-1986)

" I do not welcome advice from actors, they are here to act."– Otto Preminger


A personalidade pública do austro-húngaro Otto Preminger resumiu, para muitos, o típico diretor de cinema de Hollywood: um disciplinador com sotaque, autocrático, nascido na Europa, que aterroriza seus atores, intimida seus subordinados e gasta milhões de dólares para garantir que seus filmes sejam produzidos adequadamente. Antes dos críticos da revista Cahiers du Cinéma começarem a elogiar Preminger, foi esta personalidade pública que impediu uma apreciação do seu estilo extraordinariamente sutil e da sua consistência em abordar temas difíceis.


Seu estilo é aparentemente invisível: mise-en-scène sutil, tomadas longas, sem montagem pirotécnica, poucas tomadas de reação, movimentos de câmera simples e fluidos, e composições cuidadosas, mas naturais. Mas esta era sua forma de obrigar a audiência a examinar, discernir, a chegar a alguma conclusão sobre a narrativa.


Segue lista dos seus filmes mais marcantes:


Laura (1944): Detetive da polícia se apaixona pela imagem da mulher (interpretada por Gene Tierney) cujo assassinato ele está investigando. O enredo, baseado no romance homônimo é repleto de cenas improváveis e absurdas, mas o elenco, a sensação onírica que permeia o filme, e a música tema fazem de Laura o mais elegante e um dos mais impactantes exemplares do gênero noir. O filme alavancou a carreira de Preminger.


Where the Sidewalks Ends (1950): Detetive Mark Dixon quer ser algo que seu pai não era: um seguidor da lei. Mas será que sua natureza violenta deixará? O filme reuniu novamente o trio de Laura (1944), os atores Dana Andrews e Gene Tierney, e o diretor Otto Preminger. Jóia do gênero noir abordando a dificuldade de estabelecer a ordem num mundo onde os maus podem tudo e as normas empatam o trabalho dos defensores da justiça. Emocionante ver o protagonista ser resgatado do seu inferno interior pela singeleza da heroína.


Bonjour Tristesse (1958): A mimada Cecile, 17 anos, passa o verão na Riviera Francesa com seu pai rico, viúvo e playboy. Baseado no romance homônimo de Françoise Sagan. Um raro filme de uma garota mimada infectando o mundo com seu egoísmo. Bonjour Tristesse representa a tentativa de mostrar a vida humana sem raízes, em pura frivolidade, como que constituída de amoralidade. Mas a vida não é assim, a vida é inexoravelmente dramática. E quanto maior a frivolidade da trama, mas claro resulta a dramática seriedade da vida. Cecile vai descobrir que a vida é sempre escrita ao pé da letra, e o mais grave é que esteja em branco ou não exista – a cena final é de uma angústia atroz. O filme também é um aviso àqueles pais que querem ser amigos de seus filhos, pois não haverá outros para cumprir com o dever de amá-los, protegê-los, e dar os melhores exemplos.


Anatomy of a Murder (1959): Advogado (interpretado por James Stewart) defende um soldado que afirma ter matado um estalajadeiro devido à insanidade temporária depois que a vítima estuprou sua esposa. Grande filme de julgamento, o filme mais popular de Otto Preminger, inovador pela franqueza da sua discussão sobre sexo, e, mais do que qualquer outra coisa, uma representação impressionante do poder das palavras. Com o jovem George C. Scott como um impetuoso promotor, e uma impactante trilha sonora de Duke Ellington. Indicado para sete Oscar, incluindo melhor filme.


Advise and Consent (1962): A polarização em torno da nomeação de um novo Secretário de Estado tem consequências drásticas. Uma visão irônica e requintada de um senado argumentativo operando sobre coalizão, barganha, e aderência as virtudes do código moral representado, principalmente, nas figuras dos senadores Seab Cooley (interpretado por Charles Laughton em seu último papel) e Bob Munson (interpretado por Walter Pidgeon) – um interessante apreciação da política americana e seu sistema de freios e contrapesos. Pena que o diretor e o roteirista (Wendell Mayes) tenham cedido ao esquerdismo hollywoodiano e conspurcado a narrativa com uma visão adocicada do apontado Secretário de Estado. Mesmo assim é um grande filme. Baseado no romance homônimo vencedor do prêmio Pulitzer de Allen Drury, que escreveu o livro enquanto correspondente do The New York Times no Congresso na década de 1950. A nomeação do novo Secretário de Estado baseia-se na investigação do Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara sobre Alger Hiss que mentiu até sua morte ter sido um comunista, mas a divulgação em 1995 de telegramas soviéticos secretos que foram interceptados pela inteligência dos EUA durante a II GG (Venona Papers) comprovou sem sobra de dúvidas que Hiss espionava para os soviéticos. Cotejando o filme com a história podemos ver que o principal erro do senador Joseph McCarthy (1908-1957) foi ter subestimado a penetração soviética em Hollywood e Washington.


In Harm’s Way (1965): Oficial da Marinha, repreendido após Pearl Harbor, é posteriormente promovido a almirante e tem uma segunda chance de provar seu valor contra os japoneses. John Wayne é, em todos os sentidos, a grande força de In Harm’s Way. Sem sua presença imponente o diretor-produtor Otto Preminger não teria conseguido construir a energia que este filme gera e sustenta por 2 horas e 45 minutos. Mesmo assim, Preminger demonstra sua maestria na organização de grandes elencos e roteiros enredados, sacrificando as esperadas cenas de batalha por uma visão mais detalhada das complexidades físicas, emocionais e políticas envolvidas no lançamento de uma campanha.


Bunny Lake Is Missing (1965): Uma mulher relata que sua filha está desaparecida, mas parece não haver nenhuma evidência de que ela algum dia existiu. Thriller psicológico ambientado na agitada swinging Londres. Dirigido com arte, com atuações profissionais e roteiro sinuoso o suficiente para fazer os espectadores se perderem nas armadilhas claramente hitchcockianas. Perde-se um pouco no final, mas sem prejudicar em demasia o conjunto. Neste seu último bom filme Preminger volta ao estilo de direção criativa pela qual se destacou em Laura.

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