Personagens Principais Lorenzo (Renzo) Tramaglino – fiandeiro de seda Lucia Mondella – fiandeira de seda, noiva de Renzo Padre Abbondio – padre da cidade de Renzo, moralmente fraco Frei Cristóvão – padre corajoso e generoso, ajuda os noivos Rodrigo – nobre espanhol, cruel, deseja Lucia Inominado – fora-da-lei, inspirado em personagem histórica
Personagens Secundárias Agnese Mondella – mãe de Lucia, sabedoria popular Dom Borromeo – cardeal virtuoso, personagem histórica Perpétua – empregada de Don Abbondio Gertrudes (freira de Monza) – figura trágica, inspirada em personagem histórica Griso – sicário de Don Rodrigo Dr. Azzeccagarbugli – advogado corrupto Conde Attilio – malévolo primo de Don Rodrigo Nibbio – braço-direito de Inominado Ferrante – falso intelectual e erudito Praxedes – esposa de Don Ferrane
Interpretação “Dite loro che perdonino sempre, sempre! Tutto, tutto!” – Frei Cristovão
O romance versa sobre o destino. Renzo e Lucia são separados e reunidos por forças que estão além de seus atos. O livre arbítrio não confere poderes absolutos sobre nossa existência. Vários outros fatores afetam os acontecimentos em nossa vida como fatores físicos e psicológicos herdados, carma familiar, posição social de nascimento, ascendência celeste, e interferências da Providência que podem ser muito mais determinantes no nosso destino que nossos próprios atos. Este é um mistério que escapa nossa dimensão humana, e que talvez nos seja revelado após o Juízo Final. Vivemos num mundo de mistérios e enigmas insondáveis que, como ensina Chesterton devemos encarar com maravilhamento.
O homem que não aceita este mecanismo fundamental e inescapável da vida potencialmente produzirá infelicidade para si e os demais. Buscará culpados imagináveis em tudo de errado que lhe aconteça que credite ser imerecido, criando um ressentimento social que em última instância levará a regimes políticos totalitários e sanguinários. Acreditar-se senhor do seu destino é o maior pecado do grego antigo (húbris) e do cristão (soberba) – um ato de rebelião a Deus.
Renzo rebela-se até ter sua atenção chamada por Frei Cristóvão, enquanto Lucia demonstra uma maior confiança no que estaria reservado a ela apesar de todas as vicissitudes. A aceitação da transcendência do destino amplia o horizonte de consciência, capacitando-nos a enfrentar a vida sem aquela rebeldia inócua e destruidora resultante da húbris.
É o que se sucede ao casal Renza e Lucia, como o autor resume nas últimas linhas do romance: "A princípio, Renzo ficou entalado; depois dum longo debate, convieram os dois em que os dissabores não raro nos vêm da irreflexão, mas que o procedimento mais inocente e cauteloso não basta para conjurá-los; e, quando nos afligem, por falta nossa ou alheia, a confiança em Deus os atenua e torna proveitosos, para uma vida melhor." – a chave da fé é a esperança.
Fatos incompreensíveis sucederam-se na vida do casal como que para desobstruir os obstáculos impostos por Dom Rodrigo e uni-los ao final. O romance, em última instância, é a história da caligrafia de Deus que escreve certo por linhas tortas.
Não somos responsáveis por nosso destino, apenas por nossos atos.
Notas
Alessandro Manzoni (1785-1873) nasceu em Milão, no ducado homônimo então sob domínio austríaco.
Escritor e poeta, Manzoni é conhecido por sua obra-prima Os Noivos publicada em inicialmente 1827 – romance histórico, apresenta uma narrativa ficcional com pano de fundo de acontecimentos históricos.
A trama de Os Noivos retrocede duzentos anos, quando o ducado de Milão, então sob domínio espanhol, envolve-se na guerra de sucessão mantuana, reino contíguo.
Benedetto Croce dele disse ser “uma obra-prima de toda a humanidade” e Otto Maria Carpeaux disse que se trata do “maior romance histórico que já se escreveu”.
Desde 1968 o romance Os Noivos é sistematicamente perseguido na Itália por expressar excesso de cristianismo segundo os acadêmicos.
A crise de consciência do Inominado diante de Lucia remete autorrealização de Ulisses diante de Nausícaa na Odisseia.
Padre Abbondio – colocando seu bem-estar acima de tudo – é um sudra e pele de brâmane.
A tempestade ao final é catártica e acaba com a peste. Simbolicamente assemelha-se ao Dilúvio ou a tempestades das peças de Shakespeare.