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Oréstia (Agamêmnon – Coéforas – Eumênides) de Ésquilo

Representação idealizada do Areópago e da Acrópole ( Leo von Klenze (1784-1864)


Personagens Principais Oreste – filho de Agamêmnon e Clitemnestra Electra – irmã de Oreste Agamêmnon – pai de Oreste Clitemnestra – mãe de Oreste

Personagens Secundárias Atena- deusa guerreira da Justiça Apolo – deus guerreiro e oráculo de Delfo Erínias – Eumênides – antigas divindades, representam a culpa Egisto – filho de Tiestes e amante de Clitemnestra Cassandra – profetiza troiana


Interpretação Houve ou não justiça a Oreste? Para responder é preciso resgatar o conceito de Têmis e de Diké (Dice).

Têmis é o senso de justice estabelecido logo no início do mundo, uma justiça ainda geral, indiscriminada, genérica e esquemática. As Erínias, guiadas pelo conceito de Têmis, apresentam uma ideia bruta de justiça, que é a ideia de vingança, a Lei de Taleão.

Diké é o julgamento específico de cada caso, considerando todas suas circunstâncias. É o conceito de justiça humana. O abandono da ideia de vingança pela do julgamento. O processo penal diminui muito as chances de injustiça, porque há uma instrução ao longo do processo para avaliar com clareza se há culpa ou não. É preciso não deixar que alguém enviesado tome uma decisão por algum interesse ou paixão, é preciso produzir uma visão clara sem paixões.

A diferença entre Têmis e Diké é o tema central da obra. É assim que nasce o conceito de justiça humana.

Clitemnestra realizou Têmis ao matar seu marido, vingando o sacrifício de Ifigênia. Assim ela rebelou-se contra os deuses. Agamêmnon simboliza aqui o Pai, o Espírito. A absolvição de Orestes simboliza a recuperação da ordem perdida pela morte do Pai (como fora a morte de Urano na Teogonia de Hesídio).

A transformação das Erínias e Eumênides representa a recuperação do poder do espírito sobre a matéria, a passagem da telúrica Têmis para Diké de Zeus. Simboliza também a transformação da culpa de remorso em arrependimento. A maldição da matança de parentes na família de Tântalo termina quando Atena cria a Lei.

Este é o grande livro que explica como nenhum outro a justiça humana.


 

Notas

  • Ésquilo (525-456 b.C.) escreveu algo como 90 peças entre sátiras e tragédias, das quais apenas 7 chegaram até nós: Agamêmnon, Coéforas, Eumênides, Os Persas, Prometeu Acorrentado, Os Sete Contra Tebas e As Suplicantes.

  • A tragédia de Ésquilo é a ressurreição do homem heroico dentro do espírito de liberdade. Faz a ponte entre aristocracia do sangue de Píndaro (ansiava a restauração do mundo aristocrático de acordo com o espírito de submissão tradicional) até aristocracia do espírito e do conhecimento de Platão. Ésquilo vê um mundo onde o homem não tem chance de fazer frente as forças do destino, restando-lhe a busca da Diké interior para enfrentar o imponderável e aceitar suas consequências.

  • Ésquilo une a fé no direito, herdada de Sólon, às realidades da nova ordem republicana – o Estado é lugar ideal para seus versos. Compartia as mesmas convicções de Sólon, mas aquilo que este manifestava com tranquilidade e reflexão, Ésquilo apresenta com comoção e drama.

  • Ésquilo é o maior responsável pela formatação da tragédia apresentada nos festivais a Dionísio.

  • Oréstia, compreendendo Agamêmnon, Coéforas e Eumênides, foi a única trilogia que nos chegou na unidade com que foi apresentada originalmente. Foi encenada em 458 a.C.. A peça é também famosa por seus efeitos especiais, uma maestria de Ésquilo.

  • Como todo mito tratado numa tragédia há uma grande participação do autor na busca de aproximar a história ao momento vivido pela sociedade. Aqui Ésquilo parece abordar a mudança legislativa ocorrida em Atenas apenas quatro anos antes quando os poderes do Conselho do Areópago (colina onde se dá o julgamento de Oreste) são limitados ao julgamento de assassinatos, assalto e incêndio proposital.

  • Agamêmnon teme incorrer na hübrys, impregnado pelo autor da crença de Sólon, segunda a qual a abundância conduz à hübrys e a hübrys à ruina.

  • A família de Orestes traz uma antiga maldição (carma). Pélops, filho de Tântalo (roubo do néctar e ambrosia dos deuses), é amaldiçoado por Mírtilo a quem traíra. Depois Tiestes, filho de Pélops, agrava a maldição hereditária com as imprecações contra o irmão Atreu que o fez comer a carne de seus filhos. Agamêmnon é filho de Atreu e Egisto filho de Tiestes.

  • Aristóteles viu a tragédia de sua época (100 anos depois de Ésquilo) apenas como uma catarse, uma maneira de lidar com as tensões. Mas para Ésquilo a tragédia tem outro objetivo: é uma maneira de ensinar a um homem maduro o que fazer, como tomar melhores decisões com um mergulho profundo na alma em busca da Diké de Zeus.

  • O mito de Cassandra (dom da profecia e perda da persuasão) nos ensina que ter razão não é garantia de ser ouvido e respeitado.

  • A mesma história das Coéforas é contada em Electra de Sófocles e Electra de Eurípides. Porém na de Ésquilo o foco maior está em Oreste e seu dilema entre as responsabilidades ao pai e a mãe. Muito do discurso de abertura de Oreste perdeu-se. Considera-se que entra as partes faltantes estivesse a menção a sua visita ao oráculo de Apolo em Delfos.

  • Atena instaura o primeiro julgamento humano – criação de um estado de direito necessário para a sobrevivência de qualquer sociedade.

  • Voto de Minerva (nome romano de Atena), voto decisivo de desempate, nasce nesta história.

  • As palavras de fechamento – desejos de prosperidade para os atenienses e a fé na ordem divina que o rege – demonstram o caráter político da tragédia de Ésquilo, particularmente a demonstração do valor do sistema de corte ateniense que sofrera uma reforma negativa em 462 a.C. (quatro anos antes da encenação desta trilogia).

  • As Erínias (Alecto, Tisífone e Megera) representam um aspecto da consciência moral, o sentimento de culpa (The Remorse of Oreste – William Adolphe Bouguereau (1825-1905)):



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