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O Mestre e Margarida de Mikhail Bulgákov



Personagens Principais Mestre – escritor criticado e perseguido por escrever sobre tema religioso (Pôncio Pilatos) Margarida – amante do Mestre Professor Woland – historiador, tradutor, professor de magia negra, o Diabo Ivan Nikoláievitch Ponyriov (Bezdômny) – poeta internado após encontro com o Woland

Personagens Secundárias Mikhail Aleksándrovitch Berlioz – editor de revista e presidente de associação literária Afrânio – responsável do serviço secreto de Pilatos (o Diabo?) Professor Stravinski – médico da clínica onde estão Bêzdomni, Bossôi e o Mestre Stepan (Stiopa) Bogdánovitch Likhodêiev – diretor de teatro, compartilha apto com Berlioz Korôviev (Fagote) – do séquito de Woland Behemoth – gato humanizado do séquito de Woland Azazello – sujeito mal-encarado e forte, séquito de Woland Hella – vampira do séquito de Woland Nicanor Ivánovitch Bossôi – presidida da associação de moradores do prédio de Berlioz Grigóri Danilovitch Rímski – diretor financeiro do teatro Variedades Ivan Saviêlievitch Varienukha – administrador do teatro Variedades George’s Bengalski – mestre de cerimônias no teatro Variedades Arkádi Apollônovitch Sempleiárov – presidente da comissão acústica dos teatros de Moscou


Interpretação "O tempo das profecias passou, e as profecias cederam lugar aos acontecimentos. Foi uma visão terrível." – Mikhail Bulgákov

Sátira ao regime soviético e, principalmente, ao papel dos escritores que colocaram sua pena a serviço do Partido Comunista. O início do romance é esclarecedor: um mundo que elimina a presença Divina é um convite ao reinado do Diabo. Quando o homem perde a perspectiva da busca de aproximação com Deus resta-lhe apenas o caminho de queda às trevas.


Mas o Diabo não é inimigo de Deus, pois Este não pode ter inimigos. Woland comporta-se mais como um martirizador dos descrentes. Decepcionado com o “novo homem” soviético (“são pessoas como as outras... são levianos... gente comum... lembra os de antes... só que a questão habitacional os estragou”), Woland tudo questiona: ateísmo (hipócritas, apelam a Deus ao sentirem a presença do Diabo), tentativa do planejamento oficial soviético, mercado negro, corrupção, questão da moradia, transporte público, polícia política (pavor da NKVD), clubes de literatos, nada escapa da crítica do autor através dos olhos de Woland.


Pilatos sabe que Ieshua não deve ser condenado, mas aceita enviá-lo ao martírio, acomoda-se diante da pressão do Império Romano, preferindo garantir sua condição pessoal. E “covardia é o maior defeito humano”. Pilatos representa os intelectuais russos, o próprio povo russo acovardado diante da força tirânica do Estado. Eles procuram não ver o que acontece, fogem da realidade. O fantástico na narrativa brinca com este desapego da realidade na URSS.


Mestre enxerga a realidade mas também acovarda-se mergulhando em sua arte. Margarida, que tudo parece ter, padece com a crueza da realidade e encontra refúgio apenas no amor do Mestre e seu contato com o real refletido no romance sobre Pilatos. Essa fuga do embate contra o Mal que aflige o país lhes é fatal, afastando-os da Luz. Seu inferno é viver no refúgio estético e pessoal.


Bulgákov parece querer nos dizer que nossas decisões morais diante do Mal definem o destino de nossa alma.


No final Mestre perdoa Pilatos, o autor perdoa seus algozes. Mas poderão aqueles que resistem tão debilmente ao Mal libertar os que se entregam?


 

Notas


  • Mikhail Afanássievitch Bulgákov (1891-1940) nasceu em Kiev, Ucrânia.

  • Antagonista ao regime soviético, Bulgákov sofre censura e críticas do regime e seus intelectuais engajados ao comunismo.

  • O Mestre e Margarida foi escrito entre 1928 e 1940, durante o ostracismo do autor. A morte antes de completar a revisão do texto deixa-o com algumas inconsistências. Publicado apenas em 1967 e, na Rússia, apenas em 1973, é sua obra-prima.

  • Destacam-se em sua obra a coleção de contos satíricos Um Coração de Cachorro e Outras Histórias (1925), o romance encenado Os Dias dos Turbins (1926) que fez sucesso até ser censurado, e a novela inacabada publicada postumamente Neve Negra (1967).

  • Os aspectos fantásticos do livro lembram Gógol, que é fisicamente representado na descrição do Mestre e que também queimou um de seus livros (a segunda parte de Almas Mortas).

  • A conversa dissimulado entre Pilatos e Afrânio para matar Judas parece satirizar as imposturas do governo soviético.

  • Os três compositores que emprestam seus nomes aos personagens, Berlioz, Stravinsky e Rimsky(-Korsakov), compuseram músicas onde o Diabo era figura proeminente.

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