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O Herói do Nosso Tempo de Mikhail Liérmontov



Personagens Principais Grigóri Alieksândrovitch Pietchórin – jovem nobre oficial Bela – jovem caucasiana filha de um líder local raptada por Pietchórin Grunchnítski – jovem soldado (21 anos) conhecido de Pietchórin Mary – jovem princesa, alvo de disputa entre Pietchórin e Grunchnítski Werner – médico cético e materialista, apelidado de Mefistófeles, amigo de Pietchórin

Personagens Secundárias Maksim Maksímitch – capitão, chefiou Pietchórin no Caucaso Kázbitch – personagem histórico, comando os caucasianos contra os russos, deseja Bela Azamat – irmão de Bela, entrega a irmã a Pietchórin em troca do cavalo de Kázbitch Princesa Ligovskáia – mãe de Mary Vera – casada com Siemion Vassílievitch, amante de Pietchórin Vúlitch – tenete, aposta com Pietchórin sobre o fatalismo (determinismo)

Interpretação Pietchórin é de um egoísmo demoníaco, indiferente ao sentido de dever, justiça e verdade. Cínico e entediado com a existência, ele só traz infelicidade àqueles que cruzam seu caminho.


Pietchórin é frequentemente elencado no grupo dos “homens supérfluos” da literatura russa do século XIX, conforme definição de Ivan Turguêniev e universalmente adotada. Seria o aristocrata, não destituído de talento, que se revolta contra as normas estabelecidas. Idealista mas inativo, consciente dos problemas morais e sociais mas incapaz de agir, em parte por sua fraqueza pessoal, e em parte pelas restrições políticas impostas. Porém o herói de Liémontov não é inútil como Onegin, os aristocratas de Turguêniev ou Vrónski em Anna Kariênina de Tólstoi, mas sim um malfeitor consciente.


O homem supérfluo da literatura russa é dissecado nas seguintes obras, começando com Onegin e terminando em seu legitimo descendente Vrónski.

1825-32: Eugene Onegin – Aleksandr Púchkin (Onegin) 1840: O Herói do Nosso Tempo – Mikhail Liérmontov (Pietchórin) 1850: Diário de Um Homem Supérfluo – Ivan Turguêniev (Tchulkatúrin) 1857: Rúdin – Ivan Turguêniev (Rúdin) 1859: Oblómov – Ivan Gontcharóv (Oblómov) 1862: Pais e Filhos – Ivan Turguêniev (Bazarov) 1871: Os Demônios – Fiódor Dostoiévski (Stavróguin) 1875-77: Anna Karênina – Liev Tólstoi (Vrónski)


Onegin rebela-se contra a sociedade, Pietchórin é um rebelde metafísico, Tchulkatúrin sente-se excluído da Natureza, Rúdin é um inconformado idealista, Oblómov rebela-se contra os novos tempos e quer pará-lo, Bazarov se autoproclama um niilista, e Stavróguin apresenta comportamento psicótico, revolucionário. Vrónski retoma o papel de Onegin.


Pietchórin define-se assim para Maksim: “Tenho a alma corrompida pela sociedade, a imaginação intranquila, o coração insaciável; nada me basta: eu me acostumo à tristeza com a mesma facilidade com que me acostumo ao prazer, e minha vida vai ficando cada dia mais vazia.”


E segue definindo-se em seu diário em diferentes momentos:

“Sinto em mim essa avidez insaciável que devora tudo o que encontra no seu caminho; olho para os sofrimentos e alegrias dos demais somente naquilo que me diz respeito.”

“... o meu primeiro prazer é subordinar à minha vontade tudo o que me rodeia”.

“Mal gera mal; o primeiro sofrimento sugere a ideia do prazer de atormentar o outro; a ideia do mal não pode penetrar na cabeça do homem sem que ele queira aplica-la à realidade.”

“Gosto dos meus inimigos... eles me divertem, me agitam o sangue... adivinhar suas intenções, desbaratar tramas, fingir-me enganado e de repente derrubar com um empurrão o enorme e complexo edifício de suas astúcias e tramas – é a isso que chamo viver!”

“A que aspiro? Que espero do futuro?... Para falar a verdade, absolutamente nada.”

“... eu amava por mim mesmo, para o meu próprio prazer, apenas satisfazia uma estranha necessidade do coração, devorando avidamente os sentimentos, a ternura, as alegrias e tristezas das pessoas amadas – e nunca pude saciar-me.”

Para Pietchórin e seu congêneres não há ordem no mundo, apenas caos, e nada transcende nossa existência material.


 

Notas

  • Mikhail Iúrievitch Liérmontov (1814-1841) nasceu em Moscou, Rússia.

  • O Herói do Nosso Tempo, publicado em 1840 é sua principal obra e lhe valeu o reconhecimento como um dos fundadores da prosa russa. A narrativa desenvolve-se no Cáucaso nos anos 1830.

  • Outras obras incluem poemas (começa a escrever poesias, inspirado por Byron, com 13 anos de idade) e peças de teatro. Otto Maria Carpeaux considera-o o mais byroniano dos byronianos europeus.

  • Liérmontov teria se retratado em Pietchórin, inclusive antecipando seu próprio fim em um duelo.


Elbrus at Sunrise por Mikhail Liérmontov

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