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O Falecido Mattia Pascal de Luigi Pirandello


Personagens Principais Mattia Pascal (Adriano Meis) – protagonista e narrador Giambattista Malagna – administrador das terras de Mattia Pascal Oliva – pobre moça cortejada por Pascal, casa-se com Malagna Romilda – sobrinha de Malagna, casa-se com Pascal Marianna Pescatore – mãe de Romilda, sogra de Pascal

Personagens Secundárias Zia Scolastica – tia de Mattia Pascal Gerolamo Pomino – amigo de infância de Mattia Pascal Anselmo Paleari – dono da pensão em Roma onde Adriano Meis se hospeda Adriana Paleari – filha de Anselmo Terenzio Papiano – cunhado de Adriana e interessado nesta depois de viúvo Pinzone – professor de Mattia Pascal

Interpretação Toda obra de Pirandello trata de um problema central do ser humano: crer ser Deus – a rebelião metafísica. Esta descaracterização do ser humano, o sujeito rebelado contra sua própria existência, que não aceita os limites da condição humana, não aceita a complexidade da vida e não entende a impossibilidade de recriar a condição humana.


Mattia Pascal diante de sua nova condição – “morto” e rico – tem a ambição de uma nova vida. Mas é impossível apagar uma existência, sua essência humana, e colocar outra em seu lugar. Mattia Pascal está desafiando Deus.


No final, no retorno a terra natal, percebemos que ele nunca realmente conheceu a si mesmo, e de morto-vivo passa a vivo-morto.


O romance é uma metáfora da condição do homem caído.


 

Noutra perspectiva temos uma fábula da jurisfação da vida social, onde a lei acaba abrangendo cada vez mais as interações humanas até não haver mais relações humanas fora daquilo que o Estado determina como lei – a substituição das relações naturais por relações legais.


O estatuto humano de Mattia Pascal não era mais sua existência física e presente, mas sim seu documento, aquilo que o Estado reconhecia dele perante a sociedade – a perda da identidade natural diante do papel social determinado pelo Estado.


A substância da individualidade humana de Mattia Pascal foi substituída por uma entidade abstrata definida por lei. Este processo de despersonalização é uma das raízes da modernidade, uma desumanização que racionalizará os genocídios (Jacó não mais um ser humano, mas sim “um judeu”), os assassinatos políticos (“Trump é o novo Hitler”), e o abominável aborto (sem a certidão de nascimento você ainda não é reconhecido como ser vivente na sociedade).



 


Notas

  • Luigi Pirandello (1867-1936) nasceu na Sicília, Itália. É o autor que mais estudou a questão da identidade humana e da mentira existencial.

  • Maior dramaturgo e inovador do teatro italiano. Precursor do teatro do absurdo.

  • O romance O Falecido Mattia Pascal foi escrito em 1904. A narrativa se desenvolve na época em que foi escrita.

  • Outras obras importantes de Pirandello são: Seis Personagens em Busca de Autor (drama – 1921), Henrique IV (drama – 1922) e Vestir os Nus (drama – 1922).

  • Deus existe independentemente das religiões – são as religiões que se inspiram nele.

  • A liberdade humana acaba no momento que você a exerce, pois uma decisão impõe limite a todas as suas alternativas.

  • Não é possível iniciar uma vida filosófica sem ser capaz de narrar sua própria história (para si mesmo) – ver Confissões de São Agostinho. Dom Quixote: “Eu sei quem sou.” Escrever sinceramente o próprio necrológico é um excelente exercício de auto-conhecimento.

  • Monsignor em italiano é sempre bispo. E dom é padre (no Brasil Dom ou Do é sempre bispo).

  • A clonagem humana é moralmente errada, pois é cruel gerar alguém sem história pessoal.

  • Jurisfação: termo cunhado por Miguel Reale no livro Teoria do Direito e do Estado indicando quando o poder se legaliza (na criação da lei).

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