Personagens Principais Meursault – francês argelino, não demonstra emoções, indiferente ao mundo que o cerca
Personagens Secundárias Raymond Sintès – vizinho de Meursault Marie Cardona – datilógrafa, relaciona-se com Meursaul
Interpretação O que se destaca nesta novela é a completa e absoluta ausência de consciência moral. O personagem Meursault é incapaz de distinguir entre o certo e o errado. Ele é meramente influenciado pelas sensações. É pura quantidade, sem nenhuma qualidade.
Camus está querendo nos dizer que a vida é absurda. Na época ele acreditava que diante da absurdidade da vida o homem teria quatro alternativas: (a) o suicídio, (b) viver a vida loucamente, como Dom Juan, (c) jogar o problema para o plano metafísico, alternativa que ele ridiculariza na figura do padre Paneloux em A Peste, e, sua proposta, (d) aceitar a absurdidade e produzir uma ação concreta, como Meursault nesta novela ou Rieux no romance A Peste, ambos revoltados metafísicos.
Mais tarde Camus vai denunciar estes tipos no ensaio O Homem Revoltado. Mesmo que pretendesse defender as ideias existencialistas em O Estrangeiro e A Peste, fato é que ambos funcionam como uma grande denúncia da pobreza intelectual e espiritual de tais propostas. Por isso, Camus deve ser lido com cuidado, pois ajudou muito a aumentar a confusão do século XX.
Meursault é uma espécie de herdeiro de Raskolnikov de Crime e Castigo. O personagem de Dostoiévski apresentava uma moral desvirtuada, mas ainda tinha consciência moral. Já Meursault é incapaz de dialogar consigo mesmo sobre o certo e errado. Mas a bifurcação da vontade, fazer ou não fazer, dizer sim ou não, enfim, a dúvida, é inerente ao homem. Meursault é um tipo sub-humano, um monstro. São os Meuraults que elegem os Raskolnikovs para cargos políticos.
Em O Estrangeiro pela primeira vez um autor colocou toda a questão moral da história para ser decidida pelo leitor. Será ele capaz de colocar a moral em jogo? Ou já nos transformamos numa sociedade de monstros?
Notas
Albert Camus (1913-1960) nasceu na Argélia mas era filho de franceses (de vida modesta). Logo era um pied-noir, francês nascido nas colônias africanas. Estudou nas melhores escolas de Argel, pois contava com apoio dos professores que logo identificaram seu potencial.
Escritor cultuado (prêmio Nobel em 1957), Camus deve ser lido com muito cuidado, pois muito ajudou na confusão do século XX. A Peste (1947) é seu romance mais importante.
Estreia literariamente em Paris, em 1942, com o ensaio filosófico O Mito de Sísifo e a novela O Estrangeiro.
Não é um autor original, usa os grandes temas por sua relevância. Usa os livros como veículo de ideias, tendência daquela época.
Esquerdista, logo rompe com stalinistas e trotskistas e, sem nenhuma filiação institucional, segue sua independência ideológica.
O Estrangeiro é uma das melhores novelas já escritas. Faz companhia a Morte em Veneza de Thomas Mann, A Metamorfose de Franz Kafka, O Coração das Trevas de Joseph Conrad e A Morte de Ivan Ilitch de Liev Tolstói.
O povo brasileiro se parece com Meursault – um povo cuja proposta de vida é curtir o que der. Não dá pra fazer civilizações com isso, embora se possa ter uma vida divertida.
O processo pelo qual você destrói a distinção entre o certo e o errado começa sempre por outro processo que o antecede, que é a quebra da distinção entre o real e o imaginário.