Personagens Principais
Quasimodo – jovem deformado de nascença, sineiro da Notre-Dame
Esmeralda (Agnes) – jovem cigana
Claude Frollo – arquidiácono, criou Quasimodo
Phoebus de Châteaupers – capitão da guarda, desperta atenção de Esmeralda
Fleur-de-Lys – noiva de Phoebus
Pierre Grigoire – poeta de poucos recursos, “marido” de Esmeralda
Personagens Secundárias
Clopin Trouillefou – rei dos marginais
Duque do Egito – aliado de Clopin, protetor de Esmeralda
Jehan Frollo du Moulin – 16 anos, irmão libertino de Claude
Irmã Gudule – anacoreta, perdeu sua filha (Agnes)
Louis XI – rei da França
Djali – cabra domesticada de Esmeralda
Outros – Hugo é habilidoso em criar personagens com pequena e intensa presença
Interpretação Notre-Dame de Paris (ou O Corcunda de Notre-Dame) apresenta o melhor e o pior de Victor Hugo. Sua leitura justifica-se pela inegável qualidade da escrita, destacando-se a elaboração de ambientes, a transmissão de sentimentos, a construção de personagens fugazes mas marcantes, e lembráveis figuras de linguagem. Porém, como voltaria a fazer em Os Miseráveis, o autor não dispensa a oportunidade de utilizar o romance como panfleto revolucionário, e apelar para algumas personagens caricatas, enredos incredíveis e longas digressões.
Ao descrever o suposto contraste entre arquitetura e imprensa (então invenção recente no romance – “a revolução-mãe”), Hugo argumenta que as grandes obras da humanidade não seriam mais construídas, mas sim impressas. Talvez aí esteja a chave para panfletagem hugoana: seus romances seriam instrumentos de construção de um imaginário “mundo melhor”, e ele (e demais escritores) seu edificador.
Victor Hugo é um ídolo dos revolucionários. E ele não os desaponta com este romance anticlerical e antimonárquico, e, para tal, inventa uma Idade Média em pleno período absolutista e repleta de anacronismos. Abandona sua arte de criar personagens para erguer determinados “homens de palha” sobre os quais descarrega a responsabilidade por todas as mazelas sociais.
Destaca-se também o tratamento apologético de criminosos e marginais, o que é quase uma instituição revolucionária – em 1789 os revolucionários franceses abriram as portas das prisões, libertando indiscriminadamente assassinos, ladrões e estupradores que em poucos dias espalharam o caos nas ruas de Paris (na célebre Bastilha não havia um só prisioneiro político). Anos mais tarde, Victor Hugo, fanático por sessões espíritas, gaba-se de ter recebido do além esta mensagem: “A verdadeira religião proclama o novo evangelho: é uma imensa ternura pelos ferozes, pelos infames, pelos bandidos.”
Na fictícia Idade Média de Victor Hugo nada de bom existe, e o romance conclui sem resoluções e conciliações. O sucesso editorial de Notre-Dame de Paris em muito contribuiu para difamara a Idade Média e deseducar as gerações seguintes, bem como instigar a revolta ególatra do homem moderno.
Mas em meio a tartufaria encontra-se ao menos dois aspectos positivos: (a) podemos regatar na relação de Esmeralda e Quasimodo o clássico embate da bela e a fera como aventura de domar o aspecto violento do homem (a mulher como redenção do homem), e (b) o final trágico como lembrança do destino ser maior que a vontade humana.
Notas
Victor Hugo (1802-1885) nasceu em Besançon, França. Poeta, novelista e dramaturgo, também atuou politicamente como deputado nas Assembleias Constituinte e Legislativa.
Considerado o mais importante escritor do romantismo francês e um dos mais importantes poetas naquele idioma.
Notre-Dame de Paris foi publicada em 1831 após anos de estudo e escrita. Outras obras principais: Os Miseráveis, Les Compemplations (poemas), Les Chântiments (poemas - satírico) e La Légende des Siècles (poemas - épico).
A narrativa se desenvolve em 1482, no reinado de Louis XI.
Hugo descreve o período como referente à Idade Média, porém já vivia-se há mais de um século e meio no período absolutista. A Idade Média inicia-se me 476 (queda de Roma ocidental), atinge sua forma plena em 800 (Carlos Magno funda o império carolíngio) e termina em 1314 (Felipe Belo destrói os templários). O absolutismo termina com a Revolução Francesa em 1789.
Johannes Gutenberg (c. 1400-1468) revoluciona o sistema de impressão por volta de 1439.