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Michelangelo Antonioni (1912–2007)


"When a scene is being shot, it is very difficult to know what one wants it to say, and even if one does know, there is always a difference between what one has in mind and the result on film." – Michelangelo Antonioni

Antonioni’s film changes my perception of cinema, and the world around me. – Martin Scorsese

Michelangelo Antonioni desafiou o estilo e narrativa convencionais do cinema comercial vigente até sua época: longas tomadas, o uso de tempo morto, e narrativa (aparentemente) sem conclusão eram nada usuais. Sua criatividade e habilidade na construção de imagens foram um desafio e inspiração aos cineastas contemporâneos; e seu estilo de narrativa e temática (angústia psicológica e anseio espiritual) incitou o público a ver um filme como uma obra aberta, que o obrigava a pensar sobre seu significado e refletir sobre si mesmo.

Seus filmes mais destacados são:

Il Grido (1957): O primeiro a expressar aspectos daquilo que seria a marca do diretor: alienação e desespero embrulhados em numa narrativa aparentemente desconexa, no visual marcantemente austero, no silêncio, num final enigmático e num senso de tédio observado desapaixonadamente pela câmara.

L’Avventura (1960), La Notte (1961) e L’Eclisse (1962): Trilogia que fez a fama de Antonioni. Além da quebra dos paradigmas cinematográficos acima mencionada (como Fellini, Antonioni fez filmes que pareciam, soavam e sentiam únicos), vemos nestes filmes personagens melancólicas, introvertidas e angustiadas – sem problemas financeiros e socialmente ativas, mas que levam uma vida miserável, incapazes de comunicarem entre si (daí ser conhecida com a trilogia do tédio ou da incomunicabilidade). Qual seria a causa daquele estado de ânimo? O aspecto inescrutável da obra abre margem para diferentes analogias. As mais rasas, ideologicamente tingidas, versam sobre o vazio existencial provocado pelo capitalismo (a Itália experimentava o forte crescimento econômico do pós-guerra) e/ou a opressão sexual. Em entrevista Antonioni indicou que a apatia viria do conflito do homem moderno com a moral judaico-cristã que estaria obsoleta. Mas o que vemos é o homem perdendo o senso de transcendência, perdido neste mundo, e incapaz da comunhão de almas com seu semelhante. Antonioni, mesmo sem querer, descreve com imagens a decadência humana – o problema não está na repressão do desejo sexual, mas na rejeição dos apelos da consciência moral.

Red Desert (1964): A dificuldade de adaptar-se naquele novo mundo de progresso do pós-guerra visto na trilogia acima é levado ao paroxismo na personagem literalmente neurótica e suicida interpretada por Monica Vitti (“Há algo terrível sobre a realidade, mas eu não sei o que é. Ninguém me diz.”). Red Desert poderia formar uma tetralogia com os três filmes anteriores, mas, além do aspecto patológico da protagonista, é inferior aos demais. Porém, vale a assistência por ser o primeiro filme a cores de Antonioni, que as usa para reforçar sentimentos das personagens e sensações que gostaria de provocar na audiência.


Blow-up (1966): Antonioni deixa um pouco de lado o ennui, e aborda outro aspecto da dificuldade de comunicação: a conformidade. É o ápice de sua obra, e um zênite na cinematografia.

Zabriskie Point (1970): Tentativa de enaltecer os jovens rebeldes daqueles anos através do discurso ideológico anticapitalista e da denúncia da sociedade de consumo. O filme busca responder uma pergunta colocada logo no início, o que é preciso para ser um revolucionário, sendo a resposta dada na imaginária explosão da casa nas pedras ao final. Mas o objetivo panfletário saiu pela culatra, e o filme funciona como exemplo da puerilidade de pensamento e do vazio de propostas que o movimento revolucionário apresenta, a reunião de universitários tramando uma greve na abertura do filme é emblemática disto – impossível não ver o ridículo daqueles jovens ideologicamente manipulados. Os protagonistas, um jovem rico que quer consertar o mundo matando um policial e uma jovem que busca seus objetivos oferecendo sexo em troca, não são a redenção da entediada geração anterior, mas um novo patamar de decadência, mergulhando na ignorância e no hedonismo. As antológicas cenas de abertura e encerramento são perfeitamente musicadas por Pink Floyd.

The Passenger (1975): O último grande filme de Antonioni. É uma volta ao tema da trilogia do tédio, com o protagonista alcançando o vértice da rebelião metafísica: trocar sua existência. Mas como em O Falecido Mattia Pascal de Pirandello isso será impossível.

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