“Se ninguém me pergunta, eu o sei; mas se me perguntam, e quero explicar, não sei mais nada.” – Santo Agostinho sobre o que é o tempo
Seguindo linha tradicionalista (Sophia Perennis) o autor apresenta a concepção dos ciclos cósmicos e seu processo de degradação progressivo, ou de “queda”. Cada período do ciclo é progressivamente mais curto que o anterior, refletindo a decadência moral e física da humanidade. Os ciclos cósmicos permeiam diferentes culturas desde os primórdios históricos conhecidos. No Ocidente somos mais familiarizados com as Idades de Ouro, Prata, Bronze e Ferro (divisão quartearia) descritas na tradição grega e latina antiga (referências em Hesíodo, Ovídio e Virgílio). No livro o autor adota prioritariamente os termos relativos aos ciclos cósmicos da tradição hindu (Kalpa – Mavantara (Era de Manú) – Yuga).
Todas as religiões stricto sensu (Judaísmo – Cristianismo – Islamismo) têm um início milagroso e um final apocalíptico ou escatológico.
A visão do tempo representado linearmente (quantitativo, fácil de observar) é abandonada, dando-se ênfase ao seu aspecto qualitativo (simbólico, de difícil apreensão). A medição do tempo cíclico (circular) tem correspondência com a medição linear, apesar da medição circular apresentar uma contagem em anos inferior (mas correspondendo ao mesmo período de tempo).
O episódio de Caim e Abel simboliza a contraposição de tempo e espaço. A atividade agrícola de Caim é fixa no espaço e ele vive das variações do tempo (e.g. tempo de plantio ou colheita), já o pastoreio de Abel é fixo no tempo e dependente do espaço. A morte de Abel representa o tempo matando o espaço.
O tempo acelera ao longo do processo existencial – proporção decrescente das durações respectivas dos quatro Yugas, cujo conjunto forma o Manvantara – até seu esgotamento, contração final, quando o espaço retoma seu domínio – vitória de Abel sobre Caim – fim de uma humanidade e começo de uma nova.
O início de uma nova humanidade (Mavantara) se dá sobre os resquícios do melhor da humanidade passada – simbologia da arca de Noé, Utnapishtim na epopeia de Gilgamesh (Mesopotâmia) e Deucalião na mitologia grega.
As épocas do tempo são diferenciadas qualitativamente pelos acontecimentos que nelas se desenrolam. O tempo perde qualidade ao longo da existência de uma humanidade. E os ciclos se repetem dentro de cada ciclo, formando uma curva espiral declinante onde o ponto alto de um subciclo nunca é superior ao dos subciclos anteriores e, consequentemente, cada ponto inferior é sempre inferior aos anteriores.
Nosso presente coincide com o último período do Mavantara – Kali-Yuga, idade das sombras – ou a Idade do Ferro na cosmovisão grega antiga. O autor calcula que o final da presente humanidade ocorrerá por volta do ano 2030, ou seja, em uma década.
“Mas daquele dia, nem daquela hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, senão só o Pai.” (Mateus 24:36)
Seguem as classificações ternária, quaternária e quinária dos ciclos cósmicos:
Notas
Gaston Georgel (1899-1988), historiador e escritor, nasceu em Le Tholy, França.
Próximo de René Guénon, escreveu cinco livros abordando os ciclos cósmicos: Les Rythmes dans l’Histoire (1937), Les Quatre Âges de l’Humanité (1949), L'Ere Future et le Mouvement de l'Histoire (1956), Le Cycle Judéo-Chrétien (1983) e Chronologie des Derniers Temps (1986).
O passado é uma memória, o presente uma intuição e o futuro uma esperança. É a mente humana que cria a ideia do tempo.