Melodrama panfletário abordando o momento político após os militares negociarem a volta dos civis ao poder na Argentina em 1983. Tão logo Raúl Alfonsín é eleito presidente tem início o revanchismo esquerdista e a necessidade de reescreverem a história para ocultar seus crimes e planos nefastos.
La Historia Oficial tem como objetivo criar no imaginário coletivo uma narrativa dos anos anteriores colocando terroristas como pobres inocentes e todos os não adeptos do ideário revolucionário como monstros cruéis ou, no mínimo egoístas desconectados da realidade. E para isto não se acanha em usar e abusar dos esteriótipos. Todos os rótulos estão lá: o professor progressista adorado pelos alunos, os burgueses que só pensam em dinheiro, o jovem rebelde com ar superior, o padre desalmado, o americano caricato, o general metido em esquemas, e o discurso de pobre versus rico. Os pobres parecem anjos caídos do céu enquanto os ricos assemelham-se a uma confraria de demônios.
Em determinada passagem do filme um aluno discorda dos livros de história por “terem sido escrito pelos assassinos”. Soa como um ato falho, pois parece que o enredo deste filme foi escrito por assassinos. O uso das artes para formar o imaginário popular conforme seus interesses é confirmada pelo professor progressista ao dizer a protagonista (professora de história) que a “literatura e história sempre se encontram”.
Além da questão ideológica o filme também peca pelo excesso de pieguice (a cena das crianças brincando de guerra invadindo o quarto da filha do casal é ridícula), falta de melhor construção das personagens (a transformação da protagonista é abrupta e sem sentido), e repleta de interpretações típicas de telenovelas.
Ainda não vi nenhum filme, seja da Argentina ou qualquer outro país da América Latina, que busque refletir a realidade, sem distorções ideológicas, daqueles anos quando o comunismo internacional buscou através da luta armada cravar suas garras na América Latina. Talvez ainda seja muito cedo, o Holodomor na Ucrânia só começou a ser revelado no cinema mais de oito décadas após o evento. Ou será que irremediavelmente perdemos a capacidade de registrar artisticamente os fatos históricos?
O cinema argentino é o melhor da América Latina, por isso somente a questão ideológica explica como um panfleto tão vulgar como La Historia Oficial seja seu filme mais conhecido e reconhecido (foi a primeira película argentina a ganhar um Oscar).
Já faz tempo que o filão ideológico é o que mais rende dividendos em festivais e junto a crítica, não é por menos que o segundo filme argentino a ganhar um Oscar (El secreto de sus ojos de 2009) também inseriu no enredo seu tijolo na construção do imaginário desejado pela esquerda. E tentaram em 2022 um terceiro Oscar com o descaradamente deturpado Argentina, 1985, mas desta vez ficaram apenas na nominação.
Filme Nota 1 (escala de 1 a 5)