Personagens Principais Hipólito – filho do primeiro casamento de Teseu com a rainha das amazonas (Hipólita) Fedra – segunda mulher de Teseu, madrasta de Hipólito Teseu – rei de Atenas, unificador de Ática Personagens Secundárias Ama (de Fedra) – criada e confidente de Fedra Afrodite – deusa do amor Ártemis – deusa da caça, símbolo da vida casta
Interpretação Eurípides apresenta Fedra como uma nobre ateniense horrorizada com os desejos pelo enteado e preocupada em não sujar seu nome e o de sua família (legitimidade dos filhos). Fedra seria mera ferramenta de Afrodite para vingar-se de Hipólito que se dedicava a Ártemis ao invés dos amores (acusação contra a virgindade de Hipólito – sua recusa de cumprir seu papel como cidadão funcional – a perversão sexual seria dele e não de Fedra). O autor desviou do mito original e adaptou a peça ao decadente gosto de sua época.
Originariamente Fedra é descendente de Hélios e, desde nascimento, amaldiçoada por Afrodite a padecer paixões desenfreadas. Além disto, ela representa a vitória da perversão em Teseu sobre o amor verdadeiro representado por Ariadne (irmã de Fedra) abandonada por aquele em prol da irmã. Fedra representa a imagem da luta contra o homem (como as amazonas), que mata sua alma. No mito original a morte de Hipólito exprime o golpe final no fracasso existencial de Teseu.
A história de Fedra e Hipólito é recontada na peça trágica Fedra de Racine, que tomada isoladamente remete ao afloramento dos desejos (legítimos e ilegítimos) na ausência do Espírito (Teseu), cujo retorno implica no sacrifício (morte) do bode expiatório (Hipólito) para a retomada da normalidade.
Notas
Eurípides (484 a.C. – 406 a.C) nasceu em Salaminas (ilha próxima de Atenas).
Escreveu 74 peças (67 tragédias e 7 dramas satíricos). Algumas fontes atribuem-lhe 92 peças. Dessas chegaram até nossos dias um drama satírico (Os Ciclópes) e 18 tragédias: As Bacantes (provavelmente 405 a.C.), Medéia (431), Hipólito (428), As Troianas (415), Helena (412), Orestes (408), Ifigênia em Áulis (405), Andrômaca, Os Heráclidas, Hébuca, As Suplicantes, Electra (415-413), Héracles, Ifigênia em Táuris, Íon, As Fenícias, Alceste e Reso (contestada).
Eurípides apresenta o homem revoltado com sua condição, cuja alma sucumbe diante da realidade. O homem como ele é, segundo Aristóteles, em oposição a como deveria ser apregoado por Sófocles. Vai-se do destino implacável esquiliano para a rebelião metafísica humana de Eurípides, passando pela esperança de Sófocles. Com Eurípides a tragédia mítica convertesse numa representação da vida cotidiana.
Eurípides está impregnado com as ideias e retórica dos sofistas.
Eurípides venceu apenas 4 vezes nos festivais a Dionísio (Ésquilo venceu 32 vezes e Sófocles mais de 20 vezes).
Fedra vem de uma linhagem amaldiçoada: Hélios (Sol) contou a Hefesto a traição de Afrodite com Apolo. A deusa então amaldiçoou as mulheres sucessoras de Hélio com paixões desenfreadas: a mãe de Fedra apaixonou-se por um touro e pariu o Minotauro, Circe era sua tia, e a irmã, Ariadne, também sofreram por amor.
Como Medéia, Fedra não é grega e sim uma bárbara.
O tema de uma mulher mais velha assediar um jovem e, uma vez enjeitada, acusá-lo de estupro é recorrente na tradição, e.g. a esposa de Potifar (que tentou seduzir José no Egito).
O Hipólito que chegou até nós é uma segunda versão, já que a primeira (perdida) chocou o público por ser demasiadamente despudorada. A primeira versão ficou em terceiro lugar no festival, e a segunda saiu vencedora.
Eurípides ficou com fama de misógino por frases como: Hipólito: “Ah! Zeus! Por que nos impõe ao homem o flagelo de mau caráter chamado mulher...” Jasão (em Medéia): “Se se pudesse ter de outra maneira os filhos não mais seriam necessárias as mulheres e os homens estariam livres desta praga!”
O discurso da ama defendendo o direito a infidelidade da mulher casada é discurso sofista de transformar o melhor em pior.
Phèdre et Hippolyte de Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833):