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Frank Capra (1897-1991)

"I think of the medium as a people-to-people medium, not cameraman-to-people, not direction-to-people, not writers-to-people, but people-to-people... You can only involve an audience with people. You can't involve them with gimmicks, with sunsets, with hand-held cameras, zoom shots, or anything else. They couldn't care less about those things. But you give them something to worry about, some person they can worry about, and care about, and you've got them, you've got them involved." – Frank Capra (Directing the Film)


"Let others make films about the grand sweeps of history. I'd make mine about the bloke that pushes the broom." – Frank Capra (The Name above the Title: An Autobiography)


Capra é um mestre em retratar a sociedade. Seu trabalho é cheio de otimismo, humor, amor, patriotismo e respeito pelos valores tradicionais, mas a mensagem positiva final de seus filmes não esconde (e sim realça) o desesperador quadro social da modernidade com almas corrompidas e instituições moralmente falidas.


Ninguém soube melhor corporificar na tela o ideal humano. Seus filmes mostram pessoas comuns triunfando sobre forças da corrupção e instituições imorais fazendo o que é bom, belo e verdadeiro.


Suas personagens são inseridas nas situações humanas mais desesperadoras antes do equilíbrio ser reestabelecido com um milagre que nos transmite uma sensação de esperança. A crescente decadência espiritual, perda de valores e corrupção social tornam aqueles milagres cada vez mais improváveis. Mas diante da angústia humana, da dúvida, da inquietação e da luta apenas para administrar a vida cotidiana, os filmes de Capra ainda funcionam como uma espécie de medicina que nos alerta contra o “remédio oficial” que nos querem fazer engolir.


O indisfarçável ódio nutrido contra Capra por críticos da intelligentsia apenas atesta para a grandeza de sua obra.


Os seis filmes abaixo se destacam em sua produção artística:


Lady for a Day (1933): Gangster tenta fazer de Apple Annie, a vendedora de maçãs da Times Square, uma senhora da alta sociedade por um dia. Divertida comédia demonstrando que mesmo pessoas más são capazes de atos bons (o contrário também é verdadeiro) e o poder redentor e multiplicador dos atos de caridade. Valeu a primeira indicação ao Oscar de melhor direção para Capra, que refilmou a mesma história como Pocketful of Miracles em 1961 (seu último filme).


It Happened One Night (1934): Buscando um furo de reportagem repórter segue jovem herdeira fugitiva em um ônibus que vai da Flórida a Nova York, mas acabam presos um ao outro quando o ônibus os deixa para trás em uma das paradas. Uma comédia defendendo o bom senso, a sagacidade, a engenhosidade e a disposição romântica do homem comum – abordagematé então inédita no cinema. Capra transforma uma história de amor banal em algo inesquecível evocando todo um ambiente repleto de malandros improváveis e pessoas generosas prontas para compartir uma história e uma canção, ou simplesmente exibir suas adoráveis excentricidades. E o clichê de luta de classes é evitado apresentando o milionário pai da heroína como um bom sujeito e um falante passageiro de ônibus como um trapaceiro.


Mr. Deeds Goes to Town (1936): Modesto poeta de cartões comemorativos de uma pequena cidade em Vermont segue para Nova York ao herdar uma enorme fortuna e é imediatamente perseguido por aqueles que desejam tirar vantagem dele. Nesta comédia anti-materialista Capra apresenta a superioridade dos valores tradicionais, ainda presente nas cidades interioranas, sobre o egoísmo cosmopolita. Notar a diferença da caridade de Deeds e da suposta filantropia de tipos como George Soros e Bill Gates.


You Can’t Take It with You (1938): Filho de um banqueiro esnobe de Wall Street fica noivo de jovem de uma família bem-humorada, mas decididamente excêntrica, sem perceber que seu pai está tentando forçar a família dela a deixar sua casa para um empreendimento imobiliário. Nesta farsa todos perseguem sua paixão sem muito sucesso até que uma neta convida os pais ricos de seu noivo para irem à casa, gerando várias lições sobre dinheiro, sociedade e como seremos todos pobres quando estivermos mortos. Interessante comparar o salutar papel do romance e do contraste social aqui apresentado por Capra contra a versão de Jean Renoir no clássico La Règle du Jeu (1939).


Mr. Smith Goes to Washington (1939): Jovem ingênuo é nomeado para preencher uma vaga no Senado dos EUA. Seus planos idealistas colidem prontamente com a corrupção interna e os subterfúgios de seu herói em Washington, mas ele tenta seguir em frente apesar dos ataques ao seu caráter. Clássico drama político. O conflito de um patriota honesto contra o aparato político – simbolizado pelo famoso tour por Washington empreendido pelo herói venerando o ideário que formou os EUA em contraste com o atual cenário político. A esperança que um dia o heroísmo de uns e sacrifício de outros consigam despertar o que de melhor temos dentro de nós, e que nossas almas revigoradas recuperem as instituições políticas e o equilíbrio social. Mr. Smith Goes to Washington pode surpreender espectadores que nunca pensaram no cinema como algo edificante, mas como mero entretenimento, ou como um retrato sociológico descritivo do nosso tempo, como se as condições de vida atuais fossem o resultado de um processo natural, algo semelhante aos abacates que caem dos abacateiros e às laranjas que caem das laranjeiras.


Meet John Doe (1941): Vagabundo (interpretado por Gary Cooper) é recrutado por uma colunista ambiciosa (Barbara Stanwyck) para se passar por uma pessoa inexistente que disse que cometeria suicídio como forma de protesto, dando início a um movimento social. Brilhante exemplificação da manipulação midiática visando o poder totalitário. A união do poder financeiro, aparato estatal e mídia controla as massas que inadvertidamente alimentam o monstro que as devora. Um alerta para que não percamos o contato com a realidade e o conhecimento da origem do nosso ideário. Filme atualíssimo e indispensável.


It’s a Wonderful Life (1946): Um anjo é enviado do Céu para ajudar um empresário desesperadamente frustrado, mostrando-lhe como seria a vida se ele nunca tivesse existido. A obra-prima de Capra que ganha ainda mais relevância com o passar dos anos – para ver e rever várias vezes. Um filme de esperança e descoberta do sentido da vida – o roteiro poderia ter sido escrito por Viktor Frankl.

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