Personagens Principais Fedra – descendente de Hélio segunda esposa de Teseu Hipólito – filho de Teseu, enteado de Fedra Teseu – heróis da Ática, rei de Atenas Personagens Secundárias Terámenes – amigo de Hipólito Arícia – prima de Hipólito que a ama Enone – criada e confidente de Fedra Ismênia – confidente de Arícia
Interpretação Racine consegue resgatar a essência da tragédia grega, ou seja, a condição trágica do homem no devir, já em pleno mundo moderno graças do seu jansenismo, a sua inabalável crença da submissão do homem aos desígnios de Deus.
Fedra de Racine supera a tragédia Hipólito de Eurípedes. Racine enfoca o heroísmo de Fedra em sua tentativa de resistir aos ditos do destino (maldição de Afrodite).
O (falso) anúncio da morte de Teseu simboliza a ausência do Espírito, fazendo com que aflorem os desejos ilegítimos (Fedra por Hipólito, e entre este e Arícia) até então controlados. Ao retornar Teseu encontra uma desorganização da ordem, indicando que a preponderância dos desejos sem a tutela do Espírito tem uma potência destrutiva.
Aquela tensão precisa ser dissipa para evitar um conflito fratricida pelo poder. E o instrumento da distensão será uma vítima sacrificial com potencial de provocar a catarse daquela situação. Hipólito não tem filhos e o próprio pai quer seu fim, portanto não haveria ninguém para vingá-lo, tornando-o o bode-expiatório ideal – ele assume a posição de não acusar Fedra e defender-se.
A morte de Hipólito restabelece a ordem, desaparecem os desejos ilegítimos (Fedra suicida-se e Arícia é aceita por Teseu). Dissipa-se a tensão e cessa aquele risco de violência pelo poder. O retorno do Espírito reorganiza a hierarquia dos valores.
Até para Sigmund Freud não há civilização sem a repressão dos desejos. Mais que frear os desejos, estes devem ser sublimados. E a arte, espelho da vida, mostra aos homens as forças e fraquezas da alma, com o objetivo de promover a catarse. A verdadeira arte secunda a sublimação dos desejos, elevando-nos ao Espírito.
Notas
Jean Racine (1639-1699) nasceu em La Ferté-Milon, França. Matemático e historiador, destaca-se na dramaturgia.
Órfão desde os treze meses, Racine é criado num convento e profundamente influenciado pelo jansenismo.
Considerado, junto com Corneille, como o maior dramaturgo trágico da França. Ambos empreenderam o último esforço em produzir tragédias no sentido grego antigo.
Otto Maria Carpeaux vê em Racine um “Sófocles” francês. Segundo o crítico, Racine é o único dramaturgo que conseguiu criar uma tragédia comparável à grega e é “o poeta mais perfeito da língua francesa”.
Outras obras de destacadas: Andrômaca (1667), Britânico (1669), Berenice(1670) e Ifigênia em Áulida (1674).
Fedra foi escrita em 1677. Esta mesma história, com algumas diferenças, já fora contada por Eurípides em Hipólito e Sêneca em Fedra.
A ação passa-se em Trezena, cidade do Peloponeso onde Fedra aguarda o reaparecimento do marido que sumira numa expedição em busca de conquistas.
O tempo fabular é antes da guerra de Tróia.
Hélio (divindade Sol) é amaldiçoado por Afrodite (deusa do amor carnal) por ter revelado sua relação espúria com Ares. Seus descendentes sofrerão de apetites sexuais desviados. Hélio é pai de Pasífae, mãe de Fedra.
A mãe de Hipólito é Hipólita, rainha das Amazonas (guerreiras que amputavam o seio direito para melhor manejar a espada – “a” de negação, “mazo” significa seio).
O nome Hipólito significa “escondido”, “recluso”. Cavalo simboliza a impetuosidade do desejo, Hipólito é domador de cavalos.
Os versos nos quais Terámenes anuncia a morte de Hipólito estão entre os mais belos da língua francesa.