" The camera is the director's pencil. It should have the greatest possible mobility in order to record the most fleeting harmony of atmosphere. It is important that the mechanical factor should not stand between the spectator and the film." – F.W. Murnau
A contribuição do diretor alemão Friedrich Wilhelm Murnau ao desenvolvimento da arte cinematográfica destaca-se no movimento de câmera. Era também um mestre da luz e da sombra, com imagens brilhantemente coreografadas à medida que passava da luz para a escuridão. Murnau segui a trilha D.W. Griffith, contribuindo no desenvolvimento da linguagem cinematográfica.
O domínio técnico de Murnau resultou em filmes emocionantes de se ver, com visões fantasmagóricas que parecem definir seus personagens. Oriundo do Expressionismo Alemão, Murnau contava histórias através de elementos visuais ousados e exagerados.
Sua arte era original e ninguém mais fez filmes parecidos com os dele – eles são estranhos e assombrados. Infelizmente morreu cedo, aos 42 anos de idade, e nunca vez a transição do cinema mudo para o falado.
Seguem alguns de seus filmes mais conhecidos, destacando-se Sunrise:
Nosferatu (1922): O vampiro Conde Orlok expressa interesse em uma nova residência e na esposa do corretor de imóveis Hutter. Primeira adaptação do romance Dracula (1897) de Bram Stoker (com mudança nos nomes das personagens por razões jurídicas), e ainda a melhor entre todas versões já realizadas. O eterno embate entre a Luz e as Trevas, com a Luz invencível simbolizada pelo Amor na sua mais sublime expressão: o sacrifício.
The Last Laugh (1924): Porteiro idoso é forçado a enfrentar o desprezo de seus amigos, vizinhos e da sociedade após ser demitido de seu prestigiado emprego em um luxuoso hotel, perdendo seu vistoso uniforme. Impossível não ver aqui semelhança com o conto O Capote (1842) de Nikolai Gógol, sendo que no filme a alienação de Akáki permeia toda a sociedade. Talvez fosse um prenúncio do socialismo nazista que se seguiria, pois depois de vestir o uniforme o porteiro não era mais um indivíduo, mas um instrumento servil de uma organização. E quando ele tira o uniforme, ele deixa de existir, até aos seus próprios olhos. A reviravolta final, forçada pelos produtores, explica o título em inglês, enquanto o título original é traduzido como “o último homem (ou o homem anterior)”. O filme funciona muito melhor sem o epílogo, exemplificando os males provocados pelo não entendimento dos efeitos da roda da fortuna sobre a vida humana, como a vanglória, a inveja, o despeito, os interesse escusos, e a aparência acima da essência. O filme fez fama como um dos primeiro a extrair grandes efeitos da câmera em movimento (nas mãos do grande cinegrafista Karl Freud) e pelas tomadas em diferentes ângulos para expressar os sentimentos das personagens.
Faust (1926): O demônio Mephisto aposta com Deus que pode corromper a alma de um homem mortal. Baseada na lenda de Fausto, a narrativa do filme coincide com a cronologia de eventos de Fausto I (1808) de Goethe, mas com desfecho distinto. O filme foi uma revolução em efeitos especiais, com resultado pictórico excepcional. O tema remeta a Nosferatu, com o embate entre a Luz e as Trevas e o triunfo final do Amor. A destruição da jovem e inocente Gretchen (Margarida) pela concupiscência estimulada pelas Trevas parece um retrato da juventude hodierna sendo corrompida pelas ideologias revolucionárias e progressistas.
Sunrise (1927): Uma sofisticada mulher da cidade seduz um fazendeiro e o convence a assassinar sua esposa para juntar-se a ela na cidade, mas ele muda de ideia no último instante, reacendendo seu romance com a esposa. Baseado no conto Viagem a Tilsit (1917) de Herrman Suderman. A jornada de um homem recuperando sua identidade. O fazendeiro imaginou-se outro vivendo na cidade nos braços da amante (miséria interior do homem incapaz de assumir o seu dever vital), mas vai gradualmente voltar a realidade a partir do sentimento de pena no momento em que iria assassinar a esposa. Da compaixão, ele passará pelo remorso e o arrependimento, até a Providência dar-lhe a oportunidade de reafirmar sua identidade – o diabo age dominando a imaginação e os desejos, enquanto Deus age através dos acontecimentos reais. Um grande filme sobre a falibilidade do homem em abraçar o sentido de sua vida. Para ver e rever várias vezes.
Tabu (1931): Na ilha de Bora Bora, no Pacífico Sul, o amor de um jovem casal é ameaçado quando o chefe tribal declara a moça uma virgem sagrada. Último filme dirigido por F.W. Murnau, inteiramente filmado ao ar livre, apresenta atmosfera bem diversa dos seus trabalhos anteriores. Apesar da bela cinematografia, a visão rousseauniana dos nativos é por demais ingenua e a narrativa alonga-se com suas danças ridículas, músicas dissonantes e brincadeiras pueris – é provável que o aspecto exótico do filme fosse mais atraente há um século atrás. Murnau parecia fazer uma ode a um mundo (fantasioso) que desaparecia em contraste com as crises da década de 1930.