Personagens Principais Édipo – rei de Tebas Personagens Secundárias Laio – pai de Édipo Jocasta – mãe de Édipo Antígona – filha de Édipo e Jocasta Esfinge – monstro que aterrorizava Tebas Tirésias – vidente Creonte – irmão de Jocasta Teseu – rei de Atenas
Interpretação É importante mencionar que Édipo significa “pés inchados”. E para os gregos os pés simbolizavam a alma, os passos que você dá na vida. Édipo tem os pés inchados, dá passos orgulhosos na vida, tem alma volumosa, cheia de hübrys. A atitude de Édipo é sempre de orgulho: mata Laio (seu pai) numa discussão sobre quem tinha direito a passar primeiro numa estrada (encruzilhada = símbolo de opção, e ele escolheu errado). Soberba é o pecado de Édipo.
É neste sentido que devemos interpretar a morte de seu pai e casamento com sua mãe. Pois no pecado da hübrys Édipo está se afastando de Urano (matar o pai) e aproximando-se de Gaia (casar com a mãe), ou seja, afasta-se do Espírito e decai na Matéria.
Mas ele se arrepende, apesar de todos os atenuantes (não sabia quem era Laio e Jocasta), e assume integralmente sua culpa. Ao cegar-se, Édipo apaga as luzes externas para acender as luzes do seu interior (assim também fizeram Sansão, Paulo de Tarso, Conde Gloster de Rei Lear), ou seja, não há como compreender o mundo exterior sem a autoconsciência.
Este real e completo arrependimento (reconhecimento do erro e aceite das consequências) lhe valerá as honras divinas recebidas após sua morte na peça Édipo em Colono (santuário das Eumênides – arrependimento salutar). Mesmo que enganado pelo destino, Édipo assume a culpa, transcendendo aquilo que se espera de um ser humano comum. É o primeiro herói humano da civilização ocidental.
Édipo Rei nos ensina a visão trágica do mundo onde estamos subordinados a condições que nos transcendem. Nosso destino não está em nossas mãos, pois podemos dar o melhor de nós e mesmo assim ver tudo dar errado. Esta é a real condição humana.
Mas o Humanismo nos retirou a humildade, matou o transcendente e reduziu o homem a ele próprio. A Tragédia foi substituída pelo Drama, no qual o homem é responsável por todo e qualquer malefício que lhe acontece. E isso só vai justificar a intromissão do Estado em todas as esferas humanas.
Notas
Sofócles (496-406 a.C.) nasceu em Colono (vila próxima a Atenas, onde morreu).
Escreveu 123 peças das quais apenas sete no chegaram completas: Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona, Electra, Filoctetes, Ájax e As Traquínias.
Quando se trata da força educativa da tragédia grega, Ésquilo e Sófocles têm que ser analisados em conjunto. Sófocles é inferior a Ésquilo no vigor da mensagem religiosa, mas é melhor poeta, grande criador de personagens inspirados pelo ideal da conduta humana. Sófocles foca sua atenção no indivíduo, vê o homem eterno, corajoso e sereno perante a dor e a morte, tendo na escolha da vida honrada sua única saída - o ideal da conduta humana.
Com exceção de As Traquínias, a demais peças de Sófocles levam o nome do protagonista que encara uma crise cujo desastre só pode ser evitado caso ele traia seus ideais. Apesar das tentativas de persuasão em contrário, o protagonista não cede e sofre por isso. Os protagonistas nestas seis peças são personagens profundas, ao mesmo tempo desagradando e causando admiração na audiência.
O monumento perene do espírito ático na sua maturidade é constituído pela tragédia de Sófocles e a escultura de Fídias - representam a arte do tempo de Péricles.
O enigma da Esfinge solucionado por Édipo: “Que animal tem a princípio quatro pernas, depois duas e em seguida três?”. Resposta: o ser humano – que engatinha quando bebê, depois anda ereto e, na velhice, caminha com a ajuda de um bastão.
O presságio sobre Édipo (matar o pai e casar com a mãe) parece advir de uma maldição de Pélops cujo filho teria sido raptado por Laio.
A mensagem vinda de Coríntios de que Merope não é mãe de Édipo é apontada por Aristóteles como exemplo de peripeteia (reversão da fortuna) e que inclui uma anagnoriris (reconhecimento) – pois elas ocorrem ao mesmo tempo.
Entre as tolas interpretações da tragédia de Sófocles destacam-se as de Freud (desejo subconsciente pela mãe – mas porque ele não desejou a mãe adotiva de Corinto?) e a de Levi-Strauss (conflito entre a origem autóctone – nascido da terra – e reprodução sexual).
Outras visões distorcidas falam do combate entre destino e livre arbítrio, e o embate entre a razão humana e as crenças. Esta última levanta a hipótese adicional de Sófocles combater os Sofistas de sua época representando-os na desgraça de Édipo. Sófocles estaria dizendo que o intelecto não é suficiente para o entendimento do mundo.
A fala do Corifeu ao final da tragédia realça o conceito de Roda da Fortuna no destino humano.
Alguns críticos veem Édipo como o sofista racional que não aceita o transcendente.