Personagens Principais Tchulkatúrin – narrador, auto intitula-se um homem supérfluo Elizavieta “Liza” Ojóguin – jovem inocente, objeto da paixão de Tchulkatúrin Príncipe N. – jovem militar de Petersburgo por quem Liza se apaixona Personagens Secundárias Bizmiónkov – funcionário de baixo escalão da cidade de O., amigo de Liza Kirilla Matvéitch Ojóguin – mais importante funcionário da província, pai de Liza Teriéntevna – aia de Tchulkatúrin, velha, mandria
Interpretação
"Que tipo de homem sou?... sou um home de todo supérfluo neste mundo, ou, talvez, um bicho de todo supérfluo.”
– Tchulkatúrin escreve em seu diário
A figura do “homem supérfluo” povoou a literatura russa ao longo da maior parte do século XIX. Entre as várias personagens que o representam há em comum a origem nobre e abastada, o enfado com a vida, e uma existência sem realizações positivas. Mas também há diversas diferenças de caráter, cada uma destas personagens com suas características distintas e patologias específicas.
Turguêniev, nesta novela, dá nome a esta entidade literária representante deste tipo humano homem russo, e para isso faz uso da confissão de um moribundo. Como Brás Cubas de Machado de Assis, a personagem Tchulkatúrin, sem mais nada a perder, é sincero consigo mesmo no exame de sua vida pregressa, e a considera inútil.
A peculiaridade deste homem supérfluo é seu sentimento de ter sido excluído da Natureza (“saí do ventre despreparado para a vida”), uma combinação de ressentimento social e revolta metafísica – tão usual nos nossos dias. Tchulkatúrin acreditava ser mais do que era, e ressentia-se de não ser admirado e amado por seu eu idealizado. Queria ser um grande orador, mas quando abria a boca as palavras não saiam – “timidez devida ao orgulho” (húbris, o maior pecado). Também se revolta em não ser belo e articulado como o Príncipe N., e o odeia por isso. Tudo o ofende e oprime, sente que o mundo não lhe faz justiça (tal qual a triste figura sub-humana que infesta os grêmios acadêmicos de nossas universidades).
Tchulkatúrin vivia de mentir a si mesmo (“mentira é tão válida quanto a verdade, senão mais”) até vislumbrar a realidade no leito de morte, guardado certa semelhança com outra personagem às portas da morte, i.e. Ivan Ilitch de Tolstói. Morre em primeiro de abril, dia dos tolos.
Notas
Ivan Sergeievitch Turguêniev (1818-1883) nasceu em Oriol na Rússia. Otto Maria-Carpeaux o considera criador do romance ideológico da Rússia.
Pais e Filhos, publicada em 1862, é considerada sua obra-prima. Outras obras importantes são: Diário de Um Caçador, (1852), Rudin (1855), O Primeiro Amor (1860 - conto) e Fumaça (1867).
Diário de Um Homem Supérfluo foi publicado em 1850.