“Fuja do homem que diz que o dinheiro é mau. Essa afirmativa é o estigma que identifica o saqueador, assim como o sino indicava o leproso.” – Francisco d’Anconia
“Juro por minha vida e por meu amor à vida que jamais viverei por outro homem, nem pedirei a outro homem que viva por mim.” – John Galt
Personagens Principais John Galt – personagem central, engenheiro, líder da greve Dagny Taggart – heroína, engenheira/empresária, inicialmente inimiga de Galt Hank Rearden – empresário, inventa metal superior ao aço Francisco d’Anconia – empresário, amigo e aliado de Galt Eddie Willers – amigo e assistente de Dagny
Personagens Secundárias
Ragnar Danneskjöld – filósofo, aliado de Galt, atua como corsário a serviço da greve
Hugh Akston – maior filósofo vivo, foi professor de Galt, Francisco e Ragnar
Richard Halley – grande compositor rejeitado pela cultura depravada reinante
Dr. Floyd Ferris – cientista corrupto sedento de poder e dinheiro (recorda Dr. Fauci)
Ellis Wyatt – empresário do petróleo, não tolera as políticas destrutivas do governo
James Taggart – irmão mais velho de Dagny, ambicioso e invejoso
Fred Kinnan – líder sindical, criminoso
Gwen Ives – leal secretária de Hank Rearden
Tom Colby – líder sindical, reconhece o papel de Hank Rearden na sociedade
Mr. Thompson – chefe de estado, corrupto e sedento de poder
Welsey Mouch – economista, burocrata medíocre e corrupto
Interpretação O pior de A Revolta de Atlas são suas personagens caricatas, esquemáticas e repetitivas. Os heróis são todos ateus, workaholics, não têm filhos, e tampouco senso de humor. Pior, a autora os apresenta como sendo seres perfeitos, sem falhas, até Hulk é mais crível que o deiforme John Galt. E os vilões são verdadeiros bufões.
A trama serve apenas como veículo para a “filosofia” da autora, o Objetivismo, sendo o romance uma pregação antirreligiosa de ideologia materialista, no qual o herói de Rand é colocado no centro de um mundo sem Deus. Com toda sua oposição ao Estado, Rand termina propondo uma sociedade controlada por uma elite de tecnocratas similar aos heróis absurdos de seus romances, sendo a narrativa permeada por um tom ditatorial.
Mas o livro também tem seus méritos, seu sucesso deve-se à abordagem de temas universais: a ontológica tensão entre indivíduo e coletivo, e a consequente tendência de crescimento do poder estatal (ver O Poder de Bertrand de Jouvenel). A narrativa também atrai por defender o indivíduo (particularmente os vaixás – terceira casta) do Estado e seus sinistros parceiros – uma rara defesa da livre iniciativa numa indústria de entretenimento cada dia mais manipuladora no sentido contrário. E só isso já vale a leitura do livro.
As perdas de liberdades individuais e o nefasto avanço do Estado em todas as áreas é um problema já alarmante e ainda crescente. E nem precisamos imaginar uma greve das pessoas mais criativas e capazes, como no livro, para conhecer as consequências, basta ver o que acontece, por exemplo, em Cuba, onde o controle estatal impede a remuneração das ideias, esforços e riscos pessoais. Sem o estímulo de recompensa por seu próprio esforço, ninguém empreende ou arrisca, e tudo se estagna.
Ayn Rand é descendente do materialismo inglês do século XIX cuja teoria do conhecimento considerava o homem como uma folha em branco que apenas aprende coisas pelos sentidos. Este pensamento inspirou os "iluminados" franceses a buscarem a criação de um "novo homem". Mas os sentidos não apreendem a moral. O instinto do bem e do mal, do belo e do feio, do verdadeiro e do falso são naturalmente inatos no homem (ver conceitos aristotélico de nous e tomista de sindérese).
O centro da filosofia de Rand é a ideia do egoísmo em contraposição ao altruísmo. Porém ambos não são conceitos filosoficamente sustentáveis, pois são apenas aspectos abstratos que estão presentes em toda e qualquer ação. Egoismo e altruísmo são distinguíveis mas não separáveis, eles habitam no mesmo ser. Além disto, altruísmo não existe, pois não é possível fazer o bem sem nada receber em troca. Fazer o bem ao próximo é fazer o bem a sim mesmo, automaticamente, – chama-se caridade (fazer o bem é agradar a Deus).
Outro termo que também gera a mesma confusão é solidariedade. Inconformado com a possibilidade de explicar a caridade com a teoria da evolução, Hebert Spencer (1820-1903) tenta substituir a caridade por solidariedade. Ocorre que até os criminosos podem ser solidários (de forma negativa), mas um ato de caridade é bom mesmo quando praticado por uma pessoa má.
Também não se pode falar em uma ética baseada no egoísmo – só se for num programa de autoajuda para empresários, injustamente rotulados de egoístas. O empresário não ganha dinheiro só para si, no mínimo comparte com seus familiares, e o mais importante, ele gera empregos, remunera fornecedores, propícia o comércio, enfim, gera riqueza para uma infinidade de outras pessoas.
A Revolta de Atlas é uma das mais devastadoras críticas já escritas contra o Estado excessivo e a mídia corrompida, mas o ateísmo militante da autora projeta uma visão irreal do homem e demonstra nenhuma apreciação pelos valores culturais. Ayn Rand, correta e vigorosamente, defende a livre iniciativa e ataca o coletivismo – Rand principal obsessão era o socialismo. Mas este era o único aspecto conservador de seu pensamento. Sua ideologia pregava a completa “liberação” do homem dos fundamentos históricos, das instituições tradicionais, das estruturas vernáculas de referência, da tradição moral de responsabilidade, da religião e dos hábitos de respeito.
Ao repudiar todas as obrigações para com os outros homens, John Galt está negando a história, a ligação de cada um com seus ancestrais e toda a herança da experiência humana que é o primeiro princípio do conservadorismo. Quando John Galt, falando em causa própria, afirma a perfectibilidade do homem, ele está comungando com o princípio socialista/comunista da sociedade perfeita.
Rand rejeita o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas aceita o deus de Dagny, Ragnar, and Francisco. John Galt é apresentado como um Cristo com direito ao seu paraíso (a ravina oculta dos grevistas), uma doutrina (Objetivismo), promessa de salvação da humanidade, e até uma crucificação (a tortura no Projeto F). O Objetivismo é uma falsa e abjeta inversão religiosa.
Portanto, não é surpresa que seus seguidores funcionassem como uma seita, com anátemas, condenações, humilhações, adoração, casamentos arranjados, e escândalos sexuais dentro do círculo íntimo de Ayn Rand (que, por ironia, intitulava-se The Collective).
Notas
Ayn Rand (1905-1982) nasceu em São Petersburgo, Rússia. Imigrou para os EUA em 1926.
Rand abordou o individualismo como filosofia (Objetivismo) pela primeira vez mais destacadamente através de um romance em 1943 com A Nascente, argumentando pelo individualismo sobre o coletivismo, e o egoismo sobre o altruísmo ("a doutrina que demanda do homem viver pelos outros e colocá-los acima de si mesmo”).
A Revolta de Atlas foi publicado em 1957 – seu melhor livro e principal meio de comunicação de suas ideias. Após Atlas, Rand, em vida, publicou apenas obras de não-ficção versando sobre o Objetivismo.
Rand, que sofrera o horror do comunismo, testemunhava que o coletivismo estava ganhando popularidade nos EUA. Como os nazistas nos anos 1930, o socialismo/comunismo pratica o coletivismo como sistema político onde o indivíduo é obrigado a sacrificar-se em prol do Estado, argumentado que o indivíduo deve trabalhar e viver a serviço do coletivo.
Segue quadro sintético do Objetivismo: