“Então é isto! – disse de repente em voz alta – Que alegria!” – Últimas palavras de Ivan Ilittch
Personagens Principais Ivan Ilitch – 45 anos, juiz de direito Práscovia Fiódorovna Golovina – esposa de Ilitch
Personagens Secundárias Piort Ivânovitch – colega de Ilitch no Foro Ielisavieta (Lísanka) e Vladímir (Vássia) – filhos de Ivan e Práscovia Guerássim – criado de Ilitch
Interpretação Quando estava no apogeu da felicidade Ivan Ilitch adoece fatalmente. Em sua agonia ele revolta-se com tudo, pois não compreende porque ele estava passando por isso, o que fizera de errado para que lhe acometesse tal tragédia.
Em retrospectiva se horroriza com a falta de sentido de sua vida e sente-se só, pois apenas a perspectiva da morte dá a proporção verdadeira das coisas. A personagem alcançou um novo patamar de consciência.
Ivan Ilitch ganha perspectiva de sua vida através do sofrimento, como Dante, desce ao inferno antes de chegar ao céu. E como se só o mergulho no polo abissal (dor, morte, sofrimento) permitisse enxergar a luz do outro lado.
Imerso no devir, em constante ação, Ivan não tinha consciência da morte e da trágica condição humana. Perdidos na ação, sem o ato de reflexão, nos distanciamos do entendimento de nós mesmos. A consciência da morte, sua perspectiva presente, deve ajudar-nos a viver com maior sentido. Pois não deveríamos nesta vida fazer nada que não seja revogado pela perspectiva da morte. Neste sentido a morte ontologicamente precede a vida. A morte é a grande pedagoga da vida.
Num mundo onde a morte é vista como tabu, um assunto proibido, temos que reaprender a olhar a vida a partir da morte.
Notas
Liev Tólstoi (1828-1910) nasceu na província de Tula na Rússia.
Filho de aristocratas, viveu em ambiente familiar culto. O catálogo de sua biblioteca compreendia mais de 20 mil títulos. Era poliglota.
Leva vida desregrada e mundana até 1869 quando tem um transe mítico em Arzana, onde havia ido comprar terras. Em 1879 abandona a Igreja e forma uma seita apregoando a simplicidade absoluta (sem igreja, padres e ícones) e condenando os vícios, comer carne e sexo (só permitido na procriação). Criou o tolo conceito de que temos que amar a todos igualmente (como Deus teria feito).
Em 1881 apresenta sua versão do Novo Testamento a Santo Ambrósio, expurgando as referências à divindade de Cristo, e este o expulsa a pauladas. Tolstói virara um messiânico.
Principais obras: Guerra e Paz (1865-69), Ana Karênina (1875-77) e A Morte de Ivan Ilitch (1886).
Em 1898 publica O que é Arte? Defendendo a tese de que a arte deveria apenas divulgar a verdade cristã. Excelente fonte para entender como a mente de Tolstói funciona.
A Morte de Ivan Ilitch é uma novela, pois é centrada em uma única ação. O romance constitui-se de várias ações que se interpenetram, por isso tende a ser mais longo do que a novela. Já o conto caracteriza-se pela possibilidade de ler em “uma só sentada”.
Cinco grandes novelas: A Morte de Ivan Ilitch, Morte em Veneza de Thomas Mann, A Metamorfose de Franz Kafka, O Estrangeiro de Albert Camus e O Coração das Trevas de Joseph Conrad.
Na narrativa, Ivan Ilitch morre em 1882.
A revolta inicial de Ivan Ilitch assemelha-se a de Jó na Bíblia.
O poema Momento Num Café de Manuel Bandeira ilustra a falta de consciência da morte expressa nesta novela: Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta.
Melhores memorialistas do Brasil: Joaquim Nabuco, Gilberto Amado, Pedro Nava e Antônio Carlos Villaça.