A filosofia que nasceu com Tales como tentativa de compreensão racional do cosmo, ou seja, como tentativa de explicar o “princípio” que explica tudo, permaneceu ancorada nesta perspectiva por todo século VI e parte do século V a.C. Os filósofos naturalistas não se preocuparam com a explicação racional da natureza específica do homem, não souberam compreender cientificamente a areté, nem souberam justificar filosoficamente as leis, as regras e as prescrições às quais os homens tentam conformar-se ao agir. O homem era explicado como objeto e não como sujeito.
A condição que permite a algo tornar-se objeto de reflexão sistemática é que ele se constitua, ou ao menos pareça, uma unidade orgânica. O mundo e os procedimentos cósmicos já aparecem à imediata representação sensorial como uma unidade orgânica e, assim, são capturados nos primeiros estudos filosóficos. Já o homem e os procedimentos humanos aparecem como uma multiplicidade desconexa, onde prevalecem cisões e separações. A reflexão cosmológica desde o início dirige-se ao todo, a reflexão ética, ao invés, para nas observações particulares e nas regras de vida. Naturalmente se formou antes uma cosmogonia e uma cosmologia filosófica e só posteriormente uma reflexão ética e, por último, uma filosofia moral.
Se o antecedente da cosmologia filosófica foram as teogonias, obras de poetas, o antecedente da filosofia moral (a reflexão ética pré-filosófica) também foi expressa sobretudo pelos poetas e, em parte, alimentada pelos legisladores.
Moralidade ou conduta moral, todos os homens a possuem indistintamente. Não é possível viver sem se comportar de determinados modos que subsistem e são bem reconhecíveis. Também as convicções morais são uma herança espiritual de todos os homens. Estas se constituem, em primeiro lugar, do núcleo familiar, depois dos ambientes frequentados e, em geral, da sociedade me que se vive. Enquanto no nível da pura conduta moral a razão pode não intervir (ou intervém em grau mínimo), na reflexão moral (convicções morais) entra a razão. Não se pode explicitar, determinar e exprimir regras de vida se não comparando, sopesando, discriminado e, portanto, raciocinado. Este tipo de reflexão e de razão permanece pré-filosófico porque voltado para o particular não se eleva a princípios universais (i.e. não busca estabelecer nexos e ligações universais e necessários).
A filosofia do cosmos se constituiu remetendo os vários fenômenos aos primeiro princípio e mostrando os nexos que aqueles têm com este, e a filosofia moral se constitui remetendo as normas de vida do homem a um princípio. Mas qual princípio? A natureza ou essência do homem, que precisa antes ser determinada de modo orgânico afim de que esta essência se diferencie de todos os outros seres. A areté humana. Somente sobre estas bases, em conexão com a essência do homem e a partir de sua verdadeira areté, seria possível estabelecer em que consistem os autênticos valores (o bem, o justo, o belo, o santo, etc.).
Como se desenvolveram as convicções morais dos gregos antes da filosofia moral? Até que ponto chegou a reflexão moral? Em primeiro lugar, teve grande relevância os poemas homéricos, mais pelos paradigmas e tipos humanos (modelos de vida) que eles representavam do que pelas sentenças e máximas postas em suas bocas. A Odisséia vai mais além e fornece uma concepção ética geral: o homem reverente e obediente aos deuses tem sempre vantagem sobre os homens prepotentes e maus, os quais não podem fugir da vingança divina.
Hesíodo dá notáveis passos na reflexão moral com seu poema Os Trabalhos e os Dias. Sai da esfera heroica de Homero e mostra o ideal da vida camponesa, elevando a mais alta dignidade moral o humilde sacrifício de cada dia, a cotidiana fadiga sem prêmio. Aqui Hesíodo usa preceitos, máximas e sentenças. A concepção ético-religiosa delineia-se nitidamente em Hesíodo. Os males que os homens sofrem são punições impostas pelos deuses por causa da arrogância dos próprios homens. Ele exorta a via da virtude, embora dura e difícil, recomendando parcimônia, moderação, prudência e benevolência. São reflexões intuitivas, miticamente motivadas.
Ulterior refinamento à reflexão moral trouxeram os poetas do século VII e, sobretudo, os poetas gnômicos do século VI, tais como Sólon, Focílides e Teôgnis. Das sentenças destes poetas emergia, intuitivamente, as normas de justa medida, do estado médio e da medida média como fundamento da vida sensata e da felicidade.
Enfim, as sentenças dos sete sábios (Tales, Pítaco, Bias, Sólon, Cleóbulo, Míson (Periandro) e Quílon) nos dão o mapa da sabedoria moral dos gregos antes do surgimento da filosofia moral. Estas sentenças eram fruto de longa experiência e reflexão, mas desligadas umas das outras, não sustentadas por um principio, não são motivadas, e, portanto, não são justificadas. Estão aquém da filosofia. Era preciso que se provasse sistematicamente a tábua dos valores tradicionais e se acertasse teoricamente a sua consistência. E esta foi a grande obra que os sofistas iniciaram e que Sócrates levou a termo.
O significado original e autêntico do termo sofista é simplesmente “sábio”, “especialista no saber”, “possuidor do saber”. Era altamente positivo. A acepção negativa tornou-se corrente a partir das críticas de Sócrates, Platão e Aristóteles; vindo a significar aquele que, fazendo uso de raciocínio capcioso, busca, por um lado, enfraquecer e ofuscar o verdadeiro e, por outro, reforçar o falso revestindo-o de aparência de verdadeiro. As acusações iniciadas com Sócrates apontavam nos sofistas um saber aparente e professada com fins lucrativos.
Só mais tarde os sofistas foram reconhecidos como um fenômeno necessário até para a evolução do pensamento em Sócrates e Platão. Os sofistas representaram algo totalmente novo. Os naturalistas tinham chegado ao ponto de se anularem mutuamente. Todas as vias estavam batidas. Era fatal que o pensamento filosófico deixasse de lado a physis, e deslocasse o próprio interesse para outro objetivo. E este foi o homem e tudo o que há de tipicamente humano. Para o homem como ente individual e como membro da sociedade é que se volta a sofística. Os temas dominantes serão: política, retórica, a arte, a língua, a religião, a educação – tudo aquilo que hoje chamamos de cultura humanística. Com os sofistas se inicia o período humanista da filosofia antiga.
Este radical deslocamento do interesse filosófico foi corroborado pelas novas condições históricas que progressivamente amadureceram ao longo do século V a.C.: (1) a crise da aristocracia e o crescente poder do demos(povo) rui a convicção que a aretédependesse do nascimento, (2) o afluxo para as cidades, principalmente Atenas, com grande contingente de metecos (estrangeiros) trazendo novos costumes, e (3) ampliação do comércio e contato com hábitos e costumes diferentes, contribuindo mais ainda para a relativização dois valores tradicionais.
Os sofistas souberam captar o momento e responder as suas reais necessidades, principalmente, junto aos jovens insatisfeitos com a velha geração e os valores tradicionais.
Diferentemente do método dedutivo dos naturalistas, os sofistas usaram o método empírico-indutivo.
Pretenderam fazer valer o princípio segundo o qual todos podem adquirir areté, e esta, mais que na nobreza de sangue, se finda no saber. É verdade que cobravam por seus serviços, e isso foi muito criticado por Platão. Mas teria aí certo preconceito aristocrático. A cultura era uma herança aristocrática e não devia ser vista com fins lucrativos, Mas os sofistas não eram aristocratas e precisavam cobrar para garantir seu sustento. Ao errarem de cidade em cidade contribuíram para o ideal pan-helênico na defesa contra o inimigo externo. E nisso foram além de Platão e Aristóteles que continuam a ver na polis o paradigma de Estado.
A liberdade de espírito, própria da sofística, subverteu velhas concepções da physisnas quais o pensamento ameaçava cristalizar-se, criticou a religião tradicional, abalaram os pressupostos aristocráticos sobre os quais se fundava a política passada, abalaram as instituições esclerosadas e contestaram a tábua de valores que já era defendida sem convicção.
A preocupação dos sofistas foi constantemente dirigida a tornar os homens cultos, e a cultura deveria ser resultado de uma mente crítica voltada para os objetos primeiros, imediatos, para as leis, os costumes, as paixões, e religião. A atitude do pensamento sofístico é investigativa e crítica, consciente de que só se pode colher os frutos de todas as coisas em plena liberdade.
Não existe um sistema ou doutrina sofística: não dá para reduzir o pensamento de vários sofistas a proposições comuns. A sofística vai sofrer uma involução dos mestres da primeira geração e os discípulos da segunda geração. O primeiro grupo dos famosos mestres (reputados por Platão como dignos de valor) foi sucedido pelos eristas (reduzem a dialética a um a logomaquia) e, por fim, pelos políticos sofistas (imoral luta pelo poder).
O maior e mais famoso sofista foi Protágoras. É dele a famosa máxima “o homem é a medida de todas as coisas” – magna carta do relativismo ocidental. Mas ele aqui falava do homem individual e não da espécie humana, o que faria dele um precursor de Kant.
Protágoras estabelece seu princípio da relatividade de modo empírico, generalizando as constatações das opostas avaliações que os homens dão de todas as coisas, e não num quadro de um estudo sistemático da natureza do conhecimento: desse modo ele contribuiu para o nascimento da gnosiologia, mas não fundou esta ciência. Somente com Platão e Aristóteles estes problemas amadurecerão.
Posto que seu objetivo é armar o aluno para todos os conflitos do pensamento ou da ação dos quais a vida social pode ser a ocasião, o seu método será, portanto, essencialmente a antilogia ou a controvérsia, a oposição das várias teses possíveis sobre determinados temas, ou hipóteses, convenientemente definidas ou catalogadas; trata-se de ensinar a criticar e a discutir, a organizar um torneio de razões contra razões. Isso não significa que ele ensinava a injustiça e a iniquidade contra a justiça e a retidão.
Ele dizia ensinar a astúcia, seja nos negócios privados, seja na vida pública. E esta astucia é exatamente a arte de falar, sobre tudo em público, diante dos tribunais e assembleias, e Protágoras a considera ensinável mediante a técnica da antilogia e a consequente técnica que mostra como fazer prevalecer qualquer ponto de vista sobre o oposto.
Para ele não existiam valores morais absolutos, e sim algo que é mais útil, mais conveniente e por isso mais oportuno. O sábio não é aquele que conhece os valores absolutos inexistentes, e sim o que conhece o relativo mais útil e sabe fazê-lo atuar. È o pragmatismo.
Ao útil deve-se reconhecer uma validade objetiva. O bem e o mal são, respectivamente, o útil e o prejudicial; o melhor e o pior são o mais útil e o mais prejudicial. É o utilitarismo. Protágoras reintroduz o conceito de sábio com base no útil e com relação a ele.
É uma sapiência separada da verdade ontológica que assumiu na sua base a dimensão do empírico e do fenomenológico por pura intuição.
Mas Protágoras não sabe dizer com relação a o que este útil será determinado (como o agricultor define o útil a planta em função dos critérios de crescimento e maturação).
Protágoras se absteve de dizer se existiam deuses, assumiu uma posição de agnosticismo teológico.
Enquanto Protágoras partia do relativismo, Górgias, inferior àquele na fama e habilidade, parte de uma posição de niilismo. Para ele não existe o ser, isto é nada existe, mesmo que existisse o ser ele não seria compreensível, e mesmo assumindo que o fosse, ele não seria comunicável nem explicável aos outros. Diante disto desaparece o critério da verdade; porque do inexistente, do incognoscível, do inexprimível não há possibilidade de juízo. Para Górgias não existe absolutamente verdade (aletheia) e tudo é falso. Assim não restaria outra via senão a das opiniões, ou seja, da doxa. Mas Górgias nega-lhe qualquer validade, considerando-a “a mais desconfiável de todas as coisas”.
Ele busca pois uma via entre a Verdade e a doxa. Ele renuncia o lógos do ser incontrovertível, mas não ao lógos que se limita ao âmbito das experiências humanas, i.e. ao lógos que se limita a iluminar fatos, circunstâncias, situações da vida dos homens e da cidade. Esta não é uma ciência que permite definições ou regras absolutas, nem a opinião vagante individualista. É uma análise da situação, uma descrição do que se deve fazer. Górgias é um dos primeiros representantes de uma ética de situação. Assim ele apenas entreve a via da fenomenologia pela intuição, sem nunca teorizá-la.
Mas Górgias mostrou-se lucidíssimo teórico da retórica. Se não existe Verdade, é claro que a palavra adquire a sua autonomia, e nesta independência ontológica, torna-se disponível a tudo. Górgias descobre no nível teórico, o aspecto da palavra pela qual esta é portadora de sugestões, persuasões e crenças. E a retórica é exatamente a arte de saber explorar até o fundo este aspecto da palavra. A arte da persuasão. Uma persuasão ligada à pura crença. Dissolvido o laço entre palavra e conhecimento, e potenciado ao máximo o efeito psicológico da palavra, acreditasse poder falar de tudo e de convencer a todos sobre tudo.
O significado e importância social desta arte são claros, ainda mais na Atenas do século V a.C., onde a retórica poderia garantir o sucesso nos tribunais e nas assembleias. Mas a palavra desancorada da verdade e dos valores é perigosíssima, e Górgias, admitindo os valores morais comumente admitidos pela grecidade, põe a sua retórica a serviço deles.
O exame aprofundado da palavra torna Górgias também sensível ao seu aspecto poético. Para ele, a arte, assim como a retórica, não visa o verdadeiro, mas à moção dos sentimentos. Mas, diferentemente da retórica, a arte persegue fins desinteressados. Ele explicita o valor estético do sentimento, e, portanto, da palavra que o produz. O melhor artista é o que “engana” melhor, e o expectador mais sábio é aquele que é “enganado”. Defrontando-se com esses pensamentos, Platão negará a validez da arte; e Aristóteles descobrirá o seu poder catártico, purificador.
Num plano bastante inferior aos outros dois sofistas acima, temos Pródico de Céos – mestre da arte de fazer discursos. Arte que se fundava em algo novo: a sinonímica, ou seja, sobre a distinção de vários sinônimos e a precisa determinação das nuanças de seus significados. Assim, o lógos, depois de experimentar a capacidade de dividir-se em razões opostas (Protágoras), e de reconhecer em si uma onipotente capacidade de persuasão (Górgias), vai descobrir agora inumeráveis nuanças com as quais se podem dizer as coisas e, portanto, a propriedade da palavra e da linguagem.
Pródico notabilizou-se também pela sua pessoal reelaboração do mito de “Heracles na encruzilhada” (escolha entre Areté e Kakía - entre Virtude e Depravação). Deste mito Pródico entende que a virtude é a bem-calculada racionalização dos prazeres e do que é útil moral e materialmente, ou seja, um utilitarismo razoável. “Heracles na encruzilhada” pode ser assumido como emblema da ética dos sofistas, da primeira geração, que viam no útil o máximo valor moral. Pródico ia além e considerava que o útil era também fundamento da teologia. Sua interpretação do divino exprime uma marca da sofistica: enquanto os naturalistas identificaram o divino com o princípio (o que segundo eles era o mais valioso), Pródico o identificava com o útil, com o que para ele, e demais sofistas, valia mais do que tudo.
Hípias e Antifonte irão contrapor nomos(lei) e physis (natureza) para desvalorizar a primeira e reduzi-la a pura convenção. São denominados da corrente naturalista da sofística, que será seguida pelos sofistas políticos.
Para Hípias não valiam os métodos anteriores (antilogia, retórica e sinonímica), mas sim a polimatia, ou seja, o saber enciclopédico. E para adquiri-lo era necessário desenvolver a habilidade da memorização, por isso ele ensinava a mnemotécnica (arte de memorizar). Considerava necessário o ensinamento das ciências naturais, pois a vida humana deveria adaptar-se às leis da natureza, e não às leis humanas. É a temática da natureza-lei, na qual a natureza une os homens e as leis humanas os dividem. Assim a natureza é reconhecida como a única que pode constituir a verdadeira base do agir humano, enquanto a lei é condenada como a “tirania dos homens”. Nasce assim a distinção entre um direito natural (lei da natureza) e um direito positivo (lei posta pelos homens). Para estes sofistas só o primeiro é válido e eterno, enquanto o segundo é contingente e, no fundo, não-válido. Aqui são lançadas as premissas que levarão a uma total dessacralização das leis humanas.
Hípias tira desta distinção mais consequências positivas do que negativas: posto que a natureza do homem é igual, não tem sentido as distinções entre eles (seja entre os cidadãos de diferentes cidades ou dentro de uma mesma cidade), nascia assim um ideal cosmopolita e igualitário, que era revolucionário para a grecidade.
Antifonte vai radicalizar este pensamento levando ao limite da ruptura entre natureza e lei. Para ele natureza é verdade e lei é mera opinião. Assim uma está quase sempre em antítese com a outra, e deve-se transgredir as leis dos homens, quando se puder fazê-lo impunemente, para seguir a lei da natureza.
Este iluminismo sofístico dissolve não apenas os velhos preconceitos da casta aristocrática e o tradicional fechamento da polis, mas também a própria superioridade dos helenos sobre os outros povos, pois todo homem é por natureza igual ao outro.
Mas o que é esta natureza comum a todos os homens? Antifonte a entende por natureza sensível, pela qual o bem é o útil e o prazer, o mal é o prejudicial e o doloroso. Esta restrição da natureza humana à pura dimensão sensível apenas traz a ilusão de cancelar todas as diversidades. Pois a natureza demonstra que existem homens mais fortes, e que é natural que estes imponham sua vontade sobre os mais fracos. Sobre esta base, os sofistas políticos proclamam as leis como injustificáveis, pois ao serem contrárias à natureza seriam destituídas de qualquer fundamento objetivo.
O relativismo e processo antilógico de Protágoras se transformarão em erística nas mãos da geração mais jovem de sofistas. Para os eristas é possível refutar qualquer asserção, e para isso vão excogitar toda a aparelhagem de raciocínios capciosos e decepcionantes que posteriormente foram chamados sofismas. Para Platão tal modo de raciocinar destrói tudo: os outros raciocínios e a si próprio. Não é mais que a excrescência patológica da antilogia protagoriana e, nalguns casos, a sua paródia.
A retórica gorgiana e as deduções da corrente naturalista da sofística foram as raízes dos políticos sofistas, os quais fizeram incursões devastadoras nos campos lógico-metódico e ético-político que atingem o imoralismo quase total.
Crítias dessacralizou o conceito dos deuses, considerando-os como simples espantalhos criados para frear os maus e para fazer respeitar as leis, que por si não têm mais forças para se impor. Trasímaco de Calcedônia chega a afirmar que o “justo não é mais que a vantagem do mais forte”, ou seja, justiça é um bem para o poderoso e um mal para quem está submetido a ele. A vida “justa segundo a natureza” comportará também o favorecimento de todos os instintos.
Assim o homem-medida protagoriano, de critério torna-se, com a erística, dissolução de todo critério; e também a physis hipiana e antifontiana, em lugar de critério para fundar absoluta igualdade entre os homens, acaba também por se tornar, com os sofistas políticos, o critério para fundar a absoluta desigualdade, para criar o super-homem e conduzir ao imoralismo mais desenfreado.
O aspecto revolucionário da sofistica ajudou a dissolver os velhos princípios. Mas não construiu nada melhor, deixando ao menos três grandes questões a serem desenvolvidas:
Para crer no divino era preciso buscá-lo e encontrá-lo numa esfera mais elevada.
O homem, para se reconhecer, devia encontrar um “ubi consistam” (ponto de apoio) mais sólido.
A palavra e o pensamento deveriam recuperar a verdade num nível mais alto.
Para encontrar o Divino e a Verdade eram necessárias as descobertas metafísicas e lógicas de Platão e Aristóteles. Para reconstruir um novo rosto para o homem Sócrates vai utilizar os recursos disponíveis no interior do horizonte da própria sofística.
(Resumo extraído da História da Filosofia Antigade Giovanne Reale)