O autor, coronel do exército, exerceu os cargos de Comandante da Fronteira (1969-1971) e Secretário da Segurança (1985-1988) no então território de Roraima, tento testemunhado in loco a farsa montada para expropriar o povo brasileiro de 94.191 km² (semelhante à área de Santa Catarina e três vezes a superfície da Bélgica) e entregar a soberania deste naco do território nacional a não mais que 5 mil índios sob tutela de ONGs e governos estrangeiros.
Enquanto responsável pela fronteira, Nenna Barreto nunca ouviu falar dos ianomâmis, tendo encontrado na região, que seria a futura reserva da suposta etnia, um pequeno punhado de índios divididos entre diferentes etnias com aspecto, vestimenta e costumes dispares. Não só o autor, mas Manoel da Gama Lobo D’Almada, Alexandre Rodrigues Ferreira, os irmãos Richard e Robert Schomburgk, Phillipp von Martius, Alexandre von Humboldt, João Barbosa Rodrigues, Henri Coudreau, Jahn Chaffanjon, Francisco Xavier de Araújo, Walter Brett, Theodor Koch-Grünberg, Hamilton Rice, Jacques Ourique, Cândido Rondon e incontáveis exploradores anônimos também jamais identificaram quaisquer índios com esse nome naquelas terras.
O milagre da ianomamização dos índios começou por volta de 1973 quando a fotógrafa suíça (entrou no Brasil com passaporte belga) Cláudia Andujar propagou a novidade mesmo sem ter a requerida credencial em antropologia. O objetivo era claro: mantida a identidade primitiva das tribos, não seria possível conseguir senão uma reserva para cada uma, sobrando grandes intervalos, de mais de 100 km, para a “intromissão” dos brasileiros. Ao passo que unificadas com o mesmo nome, haveria uma razão para respaldar o ambicioso projeto de separar do Brasil toda aquela riquíssima fatia, e cedê-la aos fictícios ianomâmis e seus criadores.
Já ao chegar em Roraima em 1969 o autor surpreendeu-se ao ver como o governo havia cedido espaço para missionários (ênfase nas cruzadas de evangelização da World Council of Churches (CMI)), etnólogos, antropólogos e geólogos (havia muito mais cientistas que religiosos – ênfase na Universidade de Massachusetts), todos estrangeiros, comandarem as questões indígenas, revoltando-se com a proibição de qualquer assistência médica, odontológica e alimentar aos índios para evitar “interferência em suas culturas”. E pior, aquele grupo afastava as professoras voluntárias, impossibilitando o ensino fundamental, e, com o tempo, fomentou um ambiente de terror nas fazendas da região com invasões, atos de vandalismo e sistemático roubo de gado e outros animais. Estes criminosos, muitos travestidos de padres e pastores evangélicos, agem pela violência, seguindo a conhecida receita da guerrilha: intimidar para subjugar. Qualquer reação a tais crimes praticados pelos índios comandados pelos missionários era prontamente abortada por Brasília (o infame Cláudio Fonteles (procurador da república – militou na Ação Popular que assassinou duas pessoas nos atentados em Recife em 1966) é citado como protetor do famigerado bispo Aldo Mongiano (comunista expulso de Moçambique que infiltrou diversos padres comunistas no Brasil).
Este semear de ódio e vingança junto aos índios pelos missionários fazia parte das diretrizes da CMI para o Brasil conforme especificado na Diretriz Brasil Nº4 de julho de 1981. Seguem alguns trechos: (a) “É nosso dever promover a reunião das nações indígenas em uniões de nações, dando-lhes forma jurídica definida.”, (b) “É nosso dever identificar personalidades poderosas, aptas a defender seus direitos a qualquer preço e que possam ao mesmo tempo liderar os seus comandados, sem restrições.”, (c) “É nosso dever garantir a preservação do território da Amazônia e de seus habitantes aborígines para seu desfrute pelas grandes civilizações europeias.”, (d) “É preciso que eles vejam o homem branco como um inimigo permanente, não somente dele, índio, mas também do sistema ecológico da Amazônia.”, (d) “É preciso insistir no conceito de etnia, para que desse modo seja despertado o instinto natural de segregação, do orgulho de pertencer a uma nobreza étnica, da consciência de ser melhor que o homem branco.” (curiosamente em outro trecho da diretriz referem-se a esta “nobre etnia” como “apáticos, subnutrido e preguiçosos”), e (e) É preciso confeccionar mapas, para delimitar as nações dos indígenas, sempre maximizando as áreas, sempre pedindo três ou quatro vezes mais, sempre reivindicando a devolução da terra do índio, pois tudo pertencia a ele”.
A ladainha do último trecho acima penetrou no mundo tudo. Mas na verdade os índios não tinham é propriedade nenhuma e direito nenhum, porque as tribos espalhadas pelo território não constituíam uma nação e nem sequer um condomínio, vivendo antes como bandos hostis ocupados em desalojar-se uns aos outros por meios da violência, malgrado a abundância de espaço livre, roubando aos inimigos não somente suas terras mas também – era o costume – suas mulheres, às vezes também seus cadáveres, para comê-los.
De outro lado, os lusos também estavam na Lusitânia, os gauleses na Gália, os bretões na Bretanha e os saxões na Saxônia milênios antes da chegada dos romanos. Se vieram a crescer e tornar-se por sua vez dominadores foi porque não rejeitaram a nova cultura como um estupro, mas a aceitaram e a absorveram como um dom salvador e se tornaram, até com mais legitimidade do que os romanos, seus representantes e portadores. Muitos de nossos índios fizeram isso: abandonaram a cultura tribal, entraram na nova sociedade, adotaram a religião cristã. O Parlamento e as universidades estão repletos deles, e cada família antiga deste país se orgulha de ter mais de uma gota de sangue indígena. Os outros caíram vítimas de uma antropologia maluca intoxicada do “relativismo cultural” da charlatã Margaret Mead (1901-1978) e empenhada em conservá-los como objetos de museu e bichinhos de estimação. Os primeiros representam a força e a glória das raças indígenas. Os segundos, a vergonha e a morbidez de um atavismo insano, alimentado e manipulado por um dominador mais rico e malicioso do que aquele contra o qual hoje ostentam uma revolta esquizofrênica e deslocada no tempo. Nada mais patético do que um índio que, acreditando ou fingindo lutar contra o fantasma do domínio português extinto, se torna instrumento e servo do dominador globalista.
Ultimamente estão vetadas pela censura prévia quaisquer notícias de violências e atrocidades cometidas por índios contra as populações das cidades próximas às suas reservas. Mas a proibição não abrange somente os fatos da atualidade. As violências de índios contra brancos e a crueldade interna da sociedade indígena foram suprimidas dos livros de História, para que as novas gerações, após a lavagem cerebral que sofrem nas escolas, jamais venham a saber que a “brutal destruição” das culturas indígenas consistiu sobretudo na extinção de costumes hediondos como o canibalismo, a liquidação sistemática de prisioneiros, o sepultamento de crianças vivas e o roubo de mulheres. Mais que a manutenção dos índios numa redoma que mais assemelha-se a uma jaula num zoológico ou tenda de circo, sua existência é mero instrumento político e pecuniário, com ou sem a participação daqueles seres “apáticos, subnutrido e preguiçosos”.
A desinformação sobre a questão indígena, e a resultante ignorância, reduz o risco de revolta popular contra a pusilanimidade e ganância dos sucessivos governos que cedem a pressão interna e externa pela criação das reservas indígenas. Foi de Brasília que em 1985 veio a ordem para uma operação secreta de espancamento de garimpeiros para contentar organismos e governos estrangeiros. Naquele ano, quando Menna Barreto era Secretário de Segurança de Roraima, a população de Boa Vista ficou admirada com tantos aviões da FAB fazendo evoluções nos céus: dois aviões de transporte Búfalo, uma esquadrilha de jatos e alguns helicópteros. As aeronaves não eram para compor a Base Aérea de Boa Vista, recém-inaugurada. Eram para transportar agentes federais, que desceram no garimpo de Santa Rosa, para retirarem as pessoas de suas choupanas ao lado da pista e obriga-las a se despirem, submetendo-as a vexames, ofensas e agressões, enquanto outras equipes procediam a destruição dos equipamentos e mantimentos existentes nas imediações. A ordem era, em um prazo de 4 semanas, esvaziar os garimpos a oeste do meridiano 62 – brasileiros secretamente espancados e roubados por sua própria forças armadas para satisfazer interesses estrangeiros.
A pressão vinha de várias frentes e a fotógrafa suíça (foco no livro de Nenna Barreto) não era, de longe, a única a clamar pela criação de uma reserva para os recém-inventados ianomâmis. Em A Question of Survival, publicado em 1973, Robin Hanbury-Tenison (fundador em 1969 e atual presidente da Survival International) também cita os ianomâmis (Yanomano – ainda não tinham definido o nome da fictícia etnia) afirmando que “um parque internacional, com uma administração também internacional, seria a solução ideal para a região.” E ainda demonstra preocupação com a viabilidade de implementar a ideia acusando o Brasil de chauvinista.
A Survival International foi concebida para ser um braço indigenista da WWF, e da sua criação até a edição do decreto de Fernando Collor homologando a criação da reserva ianomâmi em 1991, trabalhou arduamente na pressão sobre o governo brasileiro e opinião pública mundial em três grandes fases:
(1) inúmeras incursões na região comandadas por seus diretores até 1976 para reconhecimento do terreno, publicação de livros criando a questão ianomâmi e informes na imprensa;
(2) fomento e criação de órgãos de pressão interna como a Comissão Pró-criação do Parque Ianomâmi (CCPY), cuja presidência foi entregue a Cláudia Andujar, para atuar junto às autoridades brasileiras, ao Congresso, à grande imprensa brasileira, aos intelectuais, aos religiosos, aos cientistas, e aos grupos privados brasileiros (simultaneamente a Survival International lançou os Boletins de Ação Urgente, destinados principalmente aos órgãos internacionais como ONU, OEA e OIT) – fase encerrada com a apresentação do Projeto de Lei nº 379/85 assinado por Severo Gomes mas de autoria CCPY; e
(3) retomada das pressões internacionais contra o Brasil capitalizando sobre a morte do sindicalista Chico Mendes em 1988, com destaque para (a) prêmio Global 500 da ONU para o “líder” ianomâmi Davi Kopennawa, sendo também convidado pela Survival International para realizar uma viagem pelo continente europeu, durante a qual recebeu ampla cobertura da imprensa internacional; (b) publicação de um contundente editorial da revista The Economist sobre a Amazônia orquestrado em paralelo a uma grandiosa manifestação em frente à embaixada brasileira em Londres protestando contra a suposta devastação da Amazônia (além da Survival International, participaram Friends of the Earth, Greenpeace, Oxfam e Forest Peoples Support Group); e (c) realização em Sheffield (Inglaterra) do simpósio Amazônia: Meio ambiente de quem? Luta de quem? com o objetivo de organizar uma federação de ONGs para patrulhar as campanhas ambientais na Amazônia.
No Brasil o contato com aquelas organizações é o Instituto de Estudos Econômicos e Sociais (INESC), com sede em Brasília, onde exerce a missão de lobby junto ao Congresso Nacional. No ano de 1989, o INESC, em cooperação com ONGs internacionais, patrocinou a visita de vários líderes indígenas brasileiros a países estrangeiros.
A ofensiva final ocorreu em 1990, com o recrudescimento das pressões, destacando-se a sugestão de “renúncia à parcela de soberania” sobre a Amazônia, apresentada por François Mitterand e Michel Rocard na Conferência de Haia, além da proposta de troca da “dívida por natureza”, feita pelo vice-primeiro ministro holandês Rudolf de Koorte na mesma época.
Ainda no ano de 1990, a Survival International patrocinou ampla divulgação daquilo que príncipe Charles, então herdeiro do trono britânico, chamou de “pavoroso genocídio coletivo dos Ianomâmi”. A partir desse fato, a Survival International, a Oxfam e o CIIR, iniciaram contatos formais com autoridades do governo britânico sobre a questão ianomâmi, provocando uma série de debates no parlamento daquele país.
Em maio, o ministro do meio ambiente do Brasil, José Lutzemberger visitou Londres, a convite do príncipe Charles, levando em sua agenda a discussão sobre assuntos ambientais, a questão Ianomâmi, e a possível visita ao Brasil do herdeiro do trono britânico. No retorno, o Ministro brasileiro entregou ao presidente Fernando Collor as fabricadas preocupações da comunidade internacional, particularmente em relação aos ianomâmis.
Em abril de 1991, Príncipe Charles visita o Brasil. Na sua comitiva vieram, dentre outras personalidades internacionais: o ministro do meio ambiente da Inglaterra, David Tripper, o diretor da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, William Reilly, o coordenador de meio ambiente da Comunidade Europeia, Carlos Ripa i Meana, e o presidente da British Petroleum, Robert Horton. Naquela oportunidade, Charles realizou um seminário, de dois dias a bordo do iate Royal Britannia, ancorado no rio Amazonas, sobre assuntos ambientalistas e a questão ianomâmi, ao qual compareceram o presidente Fernando Collor e seu ministro do meio ambiente Lutzemberger.
No mês de junho, Fernando Collor visitou Washington, ocasião em que o presidente George H. W. Bush foi portador de uma mensagem assinada por oito senadores do partido democrata americano, pedindo a Bush que pressionasse o presidente brasileiro na demarcação da reserva ianomâmi.
Em outubro, Fernando Collor recebeu dois enviados internacionais para discutir o assunto. Eram eles, o Diretor da WWF, Hernner Ehringhous e o deputado americano John Batter. Em 15 de novembro de 1991, o presidente brasileiro deu o tiro de misericórdia assinando o decreto que demarcava a Reserva Ianomâmi.
Muito além de uma questão indigenista, a criação das reservas em zona de fronteira coloca em cheque a questão da soberania brasileira na região. Os estratagemas estrangeiros que prejudicam o Brasil na devida exploração de seu território em benefício de seu povo só alcançam sucesso devido à pusilanimidade e ignorância, quando não cumplicidade, de seus governantes e intelectuais.
Os dados cartográficos e numéricos unificados do Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa indicam a atribuição legal de 37,1% do território nacional (abril 2017). Essas 12.184 áreas atribuídas foram destinadas a unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos de reforma agrária, áreas quilombolas e áreas militares com florestas públicas. Sem planejamento estratégico adequado, esse conjunto de territórios resultou essencialmente da pressão de diversos grupos sociais e políticos, nacionais e internacionais e trouxe uma grande fragmentação do território nacional. A implantação da logística viária (rodo, ferro e hidro) tornou-se uma real impossibilidade em diversas partes do país, impedindo a integração nacional. A repercussão do crescimento do preço da terra no custo dos alimentos é apenas um dos reflexos dessa situação.
As reservas indígenas abrangem mais de 119 milhões de hectares, correspondendo a 14,1% da superfície do território nacional (abril 2017) – na região Norte, a porcentagem chega a atingir 82,6% de toda a área, e no Centro-Oeste, 14,3%. Mesmo que todos autodeclarados índios das áreas rurais (503 mil – censo 2010) vivessem nas reservas, o que está muito longe de ocorrer, teríamos 14,1% do território nacional para abrigar 0,26% da população. As reservas indígenas são os verdadeiros latifúndios improdutivos no Brasil. E ainda querem, na marra, derrubar o Marco Temporal estabelecido na Constituição de 1988 para aumentar ainda mais este absurdo.
Notas
Carlos Alberto Lima Nenna Barreto (1929-1995) nasceu em Porto Alegre, RS.
A Farsa Ianomâmi foi publicado post mortem em 1995 – depoimento ditado (um grito de protesto) no leito de morte, e do qual dois terços foram suprimidos pelas autoridades antes de permitir a publicação póstuma.
O Instituto Internacional da Hiléia Amazônica foi uma proposta com a tentativa de internacionalizar os estudos da Floresta Amazônica em 1948, envolvendo órgãos internacionais como a UNESCO – o projeto foi abandonado pelo Congresso Nacional brasileiro, e o protocolo não foi ratificado por nenhum signatário. (hiléia – denominação dada à imensa floresta equatorial amazônica por Alexander von Humboldt (1769-1859), naturalista alemão, e Aimé Bonpland (1773-1858), naturalista francês).
O World Council of Churches ou Conselho Mundia de Igrejas (CMI) foi infiltrado, e posteriormente controlado, pelo serviço de inteligência russo desde 1961. Os arquivos Mitrokhin, volumosa coleção de documentos do serviço de inteligência soviético contrabandeada da URSS em 1992, apresentava o codinome de vários padres russos ortodoxos infiltrados ao longo dos anos no CMI com o objetivo específico de influenciar politicamente a instituição, alcançando a presidência do CMI em 1972. Em 1989 um documento da KGB anunciava que “agora, a agenda do CMI é também a nossa agenda”. (ver Disinformation de Ion Mihai Pacepa, e The Sword and the Shield e The World Was Going Our Way de Christopher Andrew).
Ensina-se nas escolas que o mestiço de branco com índio é denominado mameluco. Mas poucos lembram aos alunos que no interior chamavam os filhos de branco com índio de caboclo e no litoral de caiçara (referência à paliçada em torno de aldeia indígena), pois isto iria contra a falsidade do “extermínio índio pelo invasor europeu”. Fato é que a prática do cunhadismo (ao aceitar uma moça índia como esposa, o branco criava fortes laços familiares com toda a tribo, incluindo relações incestuosas com as demais mulheres da tribo), em larga medida, possibilitou a formação do povo brasileiro – fez surgir uma numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. Porém, este evento singular de miscigenação de raças é escamoteado da história para dar lugar a um ideário ideológico destrutivo para a nação (mais sobre cunhadismo em O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro).
Robin Hanbury-Tenison fundadou a Survival International (1969) depois de longas conversas com o etnobotânico Conrad Gorinsky que mais tarde patenteou nos EUA o tipir e o cunani, derivados de plantas amazônicas,entrando em litígio com os índios.
Em sua defesa pela internacionalização da Amazônia em A Question of Survival, Robin Hanbury-Tenison acusava a FUNAI de ter abandonado a região e ser incapaz de gerir a questão indígena (“no single FUNAI man had ever even been to visit the Yanomamo”). Mas em 2019 a Survival International ataca o governo Bolsonaro por transferir a demarcação indígena das mãos da FUNAI para o Ministério da Agricultura: "Taking responsibility for indigenous land demarcation away from FUNAI, the Indian affairs department, and giving it to the Agriculture Ministry is virtually a declaration of open warfare against Brazil’s tribal peoples." Obviamente o governo Bolsonaro representa um perigo aos interesses estrangeiros na Amazônia, ao passo que a FUNAI já foi aliciada por estes interesses.
Além de Hambury-Tenison e seu companheiro Kennet Taylor da Survival International, tiveram participação ativa na criação da reserva ianomâmi as seguintes pessoas: John Hermmings, diretor da Real Sociedade Geográfica Britânica, os antropólogos Andrey Colson, Tames Woodburn, Nicollas Guppy e Francis Huxley (filho de Julian Huxley), o ecologista Edward Goldsmith que, em seguida, fundaria a revista The Ecologist, e o cineasta Adrian Cowell que, mais tarde, tornar-se-ia famoso por seus filmes sobre a “devastação da Amazônia”.
Roraima possui uma área em torno de 23 milhões de hectares, dos quais 12 milhões, ou seja, mais de 50% são áreas consideradas de interesse da FUNAI, enquanto outros 3,3 milhões de hectares são reivindicados para reserva ecológica, totalizando, portanto, muito mais da metade da área com impedimentos legais ao seu aproveitamento. Além disso, outros 2 milhões de hectares encontram-se isolados entre as reservas. O restante compreende montanhas e maciços rochosos. A área livre disponível de Roraima é, por conseguinte, cerca de 28% do seu território. Vivem, no Estado, aproximadamente 16 mil índios, dos quais 12 mil são “caboclos”, muitos deles com residência fixa, grande parte em Boa Vista, devidamente integrados aos processos culturais da chamada civilização branca, participando do mercado de trabalho como assalariados ou em atividades empresariais, pertencendo às fileiras do Exército Brasileiro e Polícia Militar, sendo até eleitores; enfim, não mais pertencentes aos grupos abrangidos pela tutela da FUNAI. Dos outros 4 mil indígenas, cerca de 500 são Wai Wai, Waimiri/Atroari, enquanto 3.500 habitam a reserva Ianomâmi.
O antropólogo Edwar Luz, ex-consultor da FUNAI, denuncia que a maior parte do dinheiro das ONGs é consumida por elas mesmas. Também denuncia que ONGs internacionais financiam as organizações locais para estimularem caboclos e mestiços a se autodeclarem indígenas, buscando a demarcação de novas reservas (a FUNAI encarrega-se de emitir os Registros de Nascimento Indígena (Rani) – apenas o Instituto Socioambiental (fundado por um ex-presidente da FUNAI – Márcio Santilli) recebeu US$ 2,8 milhões neste esquema). Luz também afirma que as novas gerações de índios querem se integrar com o resto da sociedade, mas suas comunidades são impedidas de produzir ou explorar suas terras, vivendo de esmola estatal e de ONGs, ou de percentagem da exploração predatória de suas terras por terceiros.
Os recursos necessários para a constituição da Survival International foram conseguidos através da Word Wildlife Fund (WWF), na pessoa de seu presidente Peter Scott, que, naquela época, comandava outra entidade importante da estrutura burocrática inglesa, a Sociedade para a Preservação da Fauna e da Flora, cujo objetivo era a manutenção dos privilégios imperiais britânicos travestidos de conservação da natureza, sobretudo através da ampliação de parques nacionais, estendidos a todos os continentes. Outra fonte financeira da citada organização foi o irmão de Edward Goldsmith, o magnata James Goldsmith que, associado aos seus primos da família Rothschild, é um dos principais patrocinadores do movimento ambientalista mundial.
A WWF foi inspirada pelo eugenista Julian Huxley com forte apoio do príncipe Philip, consorte da rainha Elizabeth. Huxley acreditava que as classes masi baixas da sociedade eram geneticamente inferiores, e pregava "the virtual elimination of the few lowest and most degenerate types". Philips não ficava atrás e escreveu “I just wonder what it would be like to be reincarnated in an animal whose species had been so reduced in numbers than it was in danger of extinction. What would be its feelings toward the human species whose population explosion had denied it somewhere to exist… I must confess that I am tempted to ask for reincarnation as a particularly deadly virus.”(ver If I Were an Animal (1986) de Philip Duke of Edinburg). Philip, fomentador da WWF e Survival International, também disse que “human population growth is probably the single most serious long-term threat to survival. We're in for a major disaster if it isn't curbed... We have no option. If it isn't controlled voluntarily, it will be controlled involuntarily by an increase in disease, starvation and war.”
Por volta dos anos 1850, Matthew Maury, então tenente da marinha dos Estados Unidos, propôs a exploração do Rio Amazonas ao governo norte-americano. O livro O Sul Mais Distante, de Gerald Horne, registra algumas falas contundentes de Maury, como esta: “Quem deve povoar o grande vale do poderoso Amazonas? Deve ser ele habitado por um povo imbecil e indolente ou por uma raça empreendedora, que tem a energia e a iniciativa capazes de subjugar a floresta e desenvolver e utilizar os vastos recursos que ali jazem ocultos?”
Um marco nas críticas às políticas ambientais do Brasil foi o artigo, de 1988, plantado no New York Times: Vast Amazon Fires, Man-Made, Linked To Global Warming. Pouco depois da publicação, o débil governo brasileiro se propôs a receber a conferência Eco-92, buscando melhorar sua imagem. Em 1989, uma delegação norte-americana veio ao Brasil. O então senador e futuro vice-presidente Al Gore, que fazia parte da comitiva dos EUA, disse que “ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazônia não é propriedade deles, ela pertence a todos nós” (Gore depois tentou desmentir esta fala).
John Major, ex-primeiro-ministro da Inglaterra, sugeriu, em 1992, que “as nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum a todos no mundo. As campanhas ecológicas internacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa que pode, definitivamente, ensejar intervenções militares direta sobre a região.”
Mikhail Gorbachov disse, em 1992, que “o Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes.”
Henry Kissinger afirmou em 1994 que “os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não-renováveis do planeta (...) Terão de montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus intentos.”
Em fevereiro de 2005, o presidente da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, defendeu a ideia de uma “gestão internacional da Amazônia”. Segundo Lamy, a saída para a questão da preservação da Amazônia é a ‘patrimonialização’ global sobre seus recursos. Nesta mesma linha de pensamento, a então deputada italiana no Parlamento Europeu, Monica Frassoni, em visita ao Brasil, defendeu a criação de uma área de proteção internacional na Amazônia.
Em outubro de 2006, o jornal britânico Daily Telegraph noticiou que o secretário de meio ambiente do Reino Unido, David Milliband, iria propor uma espécie de privatização da Amazônia em um encontro de ministros dos 20 países maiores consumidores de energia, em Monterey, no México. A medida, que o diário afirmava ser endossada pelo primeiro-ministro Tony Blair e imaginada como parte de um plano para lidar com as mudanças climáticas globais, incluiria a criação de um órgão internacional para comprar a floresta e em seguida estabelecer uma espécie de fundo, através do qual árvores seriam vendidas a pessoas ou grupos interessados em sua preservação.
José Lutzenberger (1926-2002) criou em 1987 a Fundação Gaia e foi, como ministro do meio ambiente do governo Collor, instrumental na demarcação da reserva ianomâmi. Suspeita-se que sua fundação foi indevidamente financiada por ONGs inglesas.
Jarba Passarinho, Ministro da Justiça de Collor, escreve Amazônia, patrimônio universal? (2014) que mais parece uma defesa pessoal por não ter dificultado a criação da Reserva Ianomâmi. Passarinho tenta desacreditar Menna Barreto apoiando-se em antropólogos ideólogos e/ou devidamente comprados.
Em meados do século XIX a Inglaterra conseguiu usurpar um trecho do território brasileiro na fronteira com a Guiana usando a desculpa das “tribos independentes”. (ver Histórias das Fronteiras do Brasil (1948) de Hélio Viana)
A reserva Raposa Serra do Sol, homologada por Lula em 2005, teve sua origem em blefe, ações terroristas, e pressões externas e internas semelhantes à “geração espontânea” dos ianomâmis. Diz Menna Barreto: “E muito menos se pode chamar de ideal a conspiração criminosa de alguns ‘padres’ com os índios transviados, para arrancar outro pedaço de Roraima, com a criação pretendida da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em uma parte do estado povoada, há dois séculos, por brasileiros.”
Antropólogos e indigenistas brasileiros inventaram o conceito de “índios ressurgidos”. Eles seriam herdeiros de tribos extintas há 200 ou 300 anos. Os laudos que atestam sua legitimidade não se preocupam em certificar se esses grupos mantêm vínculos históricos ou culturais com suas pretensas raízes. Apresentam somente reivindicações de seus integrantes e argumentos estapafúrdios para justificá-las. A leniência com que a FUNAI analisa tais processos permitiu que comunidades espalhadas pelo país passassem a se apresentar como tribos desaparecidas.
Declarar-se índio, além de fácil, é uma farra. No governo do PT, bastava ser reconhecido como índio para ganhar bolsa família e cesta básica (64% dos índios recebem bolsa família e 46% recebem cesta básica – 2017).O governo gasta 250% mais com a saúde de um índio – verdadeiro ou das Organizações Tabajara – do que com a de um cidadão que (ainda) não decidiu virar índio. No Brasil, antropólogos, ativistas políticos, ONGs e religiosos se associaram a agentes públicos para montar processos e criar reservas – virou um grande (e sujo) negócio.
O censo do IBGE aponta significativo crescimento da população indígena (294 mil em 1991, 734 mil em 2000, e 818 mil em 2010, sendo que destes últimos 315 mil viviam em centros urbanos e 503 mil em áreas rurais) indicando a farra da autodeclaração de ser índio acima comentada. Mesmo assim, não deixa de ser incrível a constante acusação sobre o país do presente genocídio da população indígena.
De acordo com as projeções do Observatório Jurídico do Instituto Pensar Agro, que reúne 48 entidades do setor produtivo nacional, sem o Marco Temporal de 1988, a área prevista para novas terras indígenas poderá alcançar 27,8% do território nacional brasileiro, levando-se em consideração o tamanho atual das áreas demarcadas. Seriam somadas 487 novas terras reivindicadas e outras 120 que estão em estudo, que contemplarão 117,1 milhões de hectares. Seriam, portanto, 236,93 milhões de hectares em 1.228 terras.
Panorama dos tepuis Kukenán e Roraima localizados na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana.